quarta-feira, julho 03, 2013

Marcelo, os comentadores e a "narrativa" do armagedão económico.

Ouvi ontem Marcelo na TVI, num comentário especial por telefone, falar da irresponsabilidade de Portas e da sua substituição no PP. Está visto que está choné. Acredita num governo até ao fim da legislatura com Assunção Cristas como líder do PP. Gargalhada total! Entretanto os ministros do PP já preparam a saída, fieis ao líder.

Também diz uma mentira grave, como já é habitual. Diz que a situação económica se agravou porque Portas saiu. É mentira! É mentira porque nada mudou na economia portuguesa de ontem para hoje. Continua tão miserável como Gaspar fez questão de a deixar.

É a narrativa do desespero. E este é só o episódio piloto de uma série muito longa.

Lá fora os suspeitos do costume, na comissão europeia ou no governo alemão, ameaçam já o próximo primeiro ministro. Tal é o desejo de nos ver no chão.

Um novo governo é uma situação normal em qualquer país. A Europa agora é que diz quem pode ou não pode ser governo? Que treta. Os governos europeus do norte querem suspender a democracia no sul para continuar a gerir, por intermédio de uns quantos Passos Coelhos, os seus interesses económicos e proteger o seu domínio na liderança política e económica da Europa.

Passos Coelho alinha nesta ideia. Sem ele a Europa deixa de acreditar em nós. Mas porquê? A Europa sabe tão bem como nós quão miserável é Passos Coelho como primeiro ministro. Outro qualquer fará, na pior das hipóteses, tão mau quanto ele.

Os mercados tremem com a democracia. Mas que regime é este que especula sobre a democracia. Em que os povos são intimados a escolher governos que protejam os interesses dos donos do dinheiro. Sob ameaça de falta de financiamento. Tudo no mundo é financiado. Tudo gira à volta da circulação do dinheiro, à volta dos bancos, das bolsas e mercados de bens, mas sobretudo de capitais.

Ontem mesmo, nos últimos minutos, subiram juros da dívida, desceram cotações da bolsa daqui até Berlim. Só faltou dizerem que tinham morrido todas as borboletas na China. Esta volatilidade é completamente parva e só mostra como o sistema é instável e especulativo e precisa de uma séria reforma. Aceitar estas consequências como inevitáveis é aceitar sermos escravos da estupidez, é aceitar sermos condenado à pobreza e ao endividamento eterno.

A narrativa de que a desgraça económica, um verdadeiro armagedão, virá se houver eleições vai tentar os portugueses nas vozes de Marcelo, do próprio Passos ou dos habituais comentadores "especialistas" para quem o crónico cagaço dos mercados justifica tudo.

É preciso contrariar este discurso. O melhor para a economia é dar a voz a quem vota. As teorias económicas dos liberais, defensores da ditadura do mercado, conduzem sempre ao autoritarismo e à subserviência da democracia às lógicas perversas da acumulação do capital.

É preciso um governo novo, forte, com consensos partidários que envolvam a defesa da dignidade do Estado e dos cidadãos contra os interesses totalitários da Europa. Não há espaço hoje para uma ideologia de direita que defende o status quo e os interesses dos grupos financeiros acima das pessoas. Há sempre dinheiro para o que é preciso. Depende agora se é mais importante pagar swaps manhosos e aguentar juros de 7% ou manter apoios sociais, apoios ao emprego, salários condignos e serviços públicos de qualidade.

 

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