terça-feira, julho 22, 2014

Objetivamente a P.A.C.C. é inútil.

Realiza-se hoje a segunda tentativa/chamada para realizar a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades dos docentes contratados. Quero deixar bem claro que sou totalmente contra a prova. E sou, para além de um conjunto de outras razões políticas, porque a considero inútil essencialmente por dois motivos:
  1. Porque, objetivamente, a prova, pelo tipo de enunciado que apresenta, não certifica as competências profissionais dos docentes, quer ao nível específico das suas áreas, quer ao nível pedagógico, logo não tem repercussões na qualidade de ensino nas escolas.
  2. Porque a contratação de professores pelo Ministério da Educação depende apenas das necessidades das escolas, logo nenhum professor é contratado a mais ou a menos por causa da prova.
Estes são dois motivos objetivos e bastantes para a PACC ser inútil. Ela existe para afrontar os professores e as escolas onde são formados. É uma afronta ao conhecimento científico produzido em Portugal pelas Ciências da Educação e é, em última análise, uma despesa desnecessária para o orçamento da educação, um mau acto de gestão e uma medida que visa a desestabilização do sistema educativo.
Não há qualquer tipo de benefício, direto ou indireto, para os alunos das escolas públicas que resulte da aplicação da PAAC. E esta não é uma questão de opinião, é uma questão objetiva.

 

sábado, julho 12, 2014

A Prova.

- Andamos a trabalhar um ano, três anos, para isto. Chegar ali, luzes a bater na cara e uma exposição que nos trespassa, atravessa, vira do avesso e volta pelo estômago. Treme a voz. As ideias que ontem pareciam tão claras são agora uma cacofonia sem sentido. E tudo isto para dizer que o que fiz é o que sinto. Bem sei que tem tanto de "morte", que é "triste", "depressivo", mas foi isto que quis fazer. Isso deve valer alguma coisa. Porque não vale mais a nossa vontade? A arte não é suposto ser livre? Temas, "provérbios", regras, isso mata a arte. O que sinto é genuíno e não mereço ficar aqui, com a pele revirada, órgãos à mostra à mercê dos golpes violentos. Não entendem nada. Não sabem o que passei. Que injustiça. E tenho de ficar quieto, a fingir um sorriso, enquanto pegam, um a um, nos meus segredos e os dissecam nem sempre com o cuidado que merecem. Estou a ser autopsiado num teatro e não morri, ainda. Mas já desejei estar morto três vezes nos últimos três minutos. Foda-se, não foi para isto que vim para a Soares. Bem... se calhar foi. Em frente ao meu pai, ainda por cima. Gostava tanto que dissessem bem, esforcei-me tanto.


- Olha-me este. Passou o ano a brincar e tem tanto potencial. Disse-lhe tantas vezes para não se meter nisto. É muito depressivo, vai ser difícil explicar o conceito. Mas até que está bem feita a coisa. Não é que desenrascou um trabalho com piada. Tenho de anotar aquilo. Podia estar melhor. Mas olha como está crescido. Também não foi fácil. Passou por muito. Está ali o pai. O meu pai nunca foi à escola, quanto mais entrar no trabalho... Olha que engraçado, gosto disto. Está bem feito. Ele tem olho para a coisa. Podia ter melhorado o relatório. É sempre tudo à ultima da hora. Eu bem lhe disse. Ainda me lembro bem quando ele entrou na escola. Está tão diferente. Mas olha que até apresenta bem, nunca o ouvi falar assim. Temos de mostrar isto. Lá fora têm de ver o que eles conseguem fazer. Eu na idade dele nem metade destas coisas sonhava, quanto mais falar ou fazer isto. Terminou. Tantos aplausos. Os colegas gostaram. Até gostei. Tenho de me lembrar de lhe falar daquele detalhe. Mudava isto e ficava perfeito. Tenho de lhe dizer. Vou começar por lhe dar os parabéns, depois dou-lhe a pancada. Prefiro que me tenha raiva hoje mas mais tarde vai perceber que só lhe disse a verdade. Ele põe cá um filho, um dia, se souber que dizemos só a verdade. Sem medo. Se pudesse agora abraçava-o.


Há escolas que não ficam à flor da pele, insistem em entrar.