sábado, maio 25, 2013

Um Ministério que presta um serviço mínimo.

Gostava de saber qual é o conceito de serviço mínimo adaptado aos conselhos de turma ou às vigilâncias de exames nacionais.

Podem-se realizar conselhos de turma só com um terço dos professores (a lei parece dizer que não)? E estes, em greve, entregarão as classificações?

Poderão os exames funcionar só com um vigilante?

A questão é esta: se o professores são tão importantes porque é que são tratados como inúteis?

As greves atingem onde dói mais, nada mais natural. E acontecem em situações extremas, por exemplo:

  • Quando se prepara o despedimento indiscriminado de professores do quadro.
  • Depois de provado que se paga a colégios privados para abrir turmas que as escolas públicas estão proibidas de abrir.
  • Depois de congelamentos intermináveis da carreira.
  • Quebras brutais em salários e benefícios.
  • Aumento das horas de trabalho e do número de funções paralelas.
  • Processos kafkianos de avaliação criados para dividir a classe.
  • Legislação avulsa, fora de tempo e pedagogicamente perversa que altera programas, métodos de acesso ao ensino superior e regras de funcionamento das escolas e dos concursos.
Não chega de motivos?

Os professores têm sido atacados não apenas como classe ou grupo profissional, em assuntos diretamente relacionados com concursos, colocações, salários, horário de trabalho e funções. O próprio sistema de ensino e a qualidade do processo educativo, onde têm um papel absolutamente esencial, estão a ser postos em causa por medidas contrárias à qualidade da educação.

A greve só é surpresa e só é injusta para quem ou anda a dormir ou não tem respeito nenhum pelos portugueses que são ou foram alunos.

Devemos refletir sobre a natureza destas medidas, cuja maioria não foi exigida por nenhuma troika. Foi a ideologia retrógrada, conservadora e sobretudo protecionista dos mais favorecidos que criou esta miséria de ideias em que se tornou o mais importante ministério de uma democracia.

Andam secretários de estado (Poiares Maduro) a dizer que a Constituição é um entrave à livre iniciativa legislativa democrática porque lhes falta escola, falta escola democrática a estes governantes. Porque não sabem que a liberdade pertence aos cidadãos e não aos governos que os exploram e desrespeitam. A Constituição existe para impedir que tais governantes tenham poder sem limites e falhem nos seus deveres aos cidadãos.

Uma escola livre e autónoma, verdadeiramente democrática e centrada no aluno e nas suas necessidades, irá derrotar esta ideologia passadista e criar cidadãos maduros e responsáveis diferentes desta "gente".

O futuro anda na escola e merece o melhor de nós.

 

domingo, maio 05, 2013

Será que 40 horas chegam para tanto trabalho?

Os professores em Portugal têm de realizar 1100 minutos de aulas por semana. São, de facto, 22 aulas de 50 minutos, os chamados "tempos". Para leccionar uma disciplina que, por semana, ocupe 4 destes tempos, ou seja 200 minutos, cada professor terá de ter 5 turmas e meia. Seja lá o que "meia" for. Nas regras actuais isso significa cerca de 150 alunos. Se por mês o professor dedicar 30 minutos de trabalho de casa a avaliar e a reflectir sobre cada um destes alunos - que dedica mais, tendo em conta toda a preparação de aulas, correcções de trabalhos, etc. - isso representa 4500 minutos por mês, 90 tempos de 50 minutos por mês ou seja 22,5 tempos por semana.

Quer isto dizer que os professores, sem muita dedicação, facilmente atingem os 44 ou 45 tempos (de 50 minutos) por semana. 36 horas de trabalho no mínimo.

A juntar a isto estão as Componentes Não Lectivas (trabalho realizado na escola diferente de aulas - apoios, clubes e outras tarefas) que representam mais 150 minutos no mínimo legal.

São, no total, 39 horas de trabalho hoje, sem aumentos nenhuns!

Agora imaginem em disciplinas com menos de 200 minutos semanais e com o respectivo aumento do número de turmas para 6, 7 ou 8. Mais de 200 alunos. Será que chega?

Isto para explicar que o aumento do horário do trabalho na função pública é uma farsa quando se aplica aos professores e terá consequências terríveis na qualidade do sistema educativo se for aplicado às horas lectivas.

Um caminho sem retorno?

Pode parecer que não, para quem ouça os economistas, mas o caminho que seguimos todos tem retorno. Chama-se respeito próprio. E esse respeito próprio deve expressar-se na rejeição total e absoluta desta visão da escola como uma empresa pecuária.

Não somos trabalhadores de um matadouro nem os alunos são animais para serem tratados como tal!

Esta escola está a ser construída para realizar uma triagem social e os professores são os funcionários encarregues do trabalho sujo que os ideólogos do poder exigem mas não admitem.

Os alunos que sairão destes modelos de organização da escola vão andar nas ruas amanhã e não se vão esquecer do que lhes fizeram. Quando a violência, a falta de respeito pelo outro, o caos tomar as nossas ruas os dedos estarão apontados aos professores, esses tarefeiros. Serão então exigidas medidas para repor a ordem, mais polícia, mais autoridade.

Nessa altura os políticos de hoje estarão todos a viver muito bem e longe da confusão que criaram.

Que não se esqueçam também aqueles que se ficam a rir ou aplaudem estas medidas com esgares de vingança porque, se um professor ou funcionário do estado pode dar mais, daqui a pouco tempo o seu patrão irá concluir que ele próprio pode dar ainda mais e a ganhar ainda menos.

Os padrões de tempo de trabalho e vencimento estabelecidos pelo estado têm sempre reflexo nas empresas privadas e em contexto de crise tudo se admite.

Que a divisão que nos semeiam no meio do povo não floresça. Que o nosso respeito próprio vença a estupidez do "hunger game" neo-liberal. É necessário resistir sempre e cansar os ouvidos dos que ainda não acordaram.