quinta-feira, abril 23, 2009

They come out in the sun...


Não sei se já repararam mas os senhores que multam e bloqueiam carros mal estacionados saíram da toca, agora no bom tempo, e andam muito atarefados. Onde estiveram no Inverno, quando havia frio e chuva? Nessa altura não era importante passar as multas? Agora ao sol os carros irritam mais? hummm... Pagaram a esta gente durante o defeso climatérico? Nunca percebi estas políticas de conveniência. Que raio de estupidez, alguém se esqueceu de distribuir impermeáveis aos senhores da Polícia Municipal ou eles só trabalham quando lhes convém? Outra coisa engraçada é que são capazes de entupir uma rua, estacionando em segunda fila ou demorando eternidades para rebocar carros que estão em estacionamento pago mas sem o bilhete, minando o trânsito por completo apenas para cobrar ao cidadão. Isto significa que não servem ninguém a não ser a si próprios. Cobram multas para se financiar, estragam carros de pessoas por falta de 60c., e nunca perdoam o dinheiro do reboque mesmo quando a malta chega a tempo. Com o reboque estacionado em segunda fila cobram o dinheiro e passam ao carro que está à frente. Espectacular! Mais uma coisa que existe e não tem explicação...

fotografia gentilmente gamada do blog Aquela Opinião... é por uma boa causa.

Sobre os eventos do evento...

Tão perto do 25 de Abril, a partir de um evento sobre o evento, lembrei-me de dizer duas ou três coisas sobre o assunto dos eventos sobre o evento. Há um folclore ligado ao 25 de Abril e aos anos setenta portugueses, resultado da nossa cultura e património artístico musical, imagético, literário e poético dessa época. A celebração de uma revolução pode ser sempre contextualizada no facto histórico devidamente datado e não passar disso. Acontece assim quando a relevância política da mesma desaparece da memória colectiva e deixa de fazer sentido na vida diária dos povos. Quando é apenas uma lembrança dos livros de história. Não acho que isso se passe com o 25 de Abril. Não acredito que as vitórias da nossa revolução sejam apenas lembranças de um livro de história ou motivo de estudo de um doutorando qualquer na Torre do Tombo. Acredito que as lições do 25 de Abril são relevantes hoje mais do que o foram nos anos quentes do período pós-revolucionário. É necessário reflectir sobre a guerra, sobre o conceito de guerra, sobre as guerras racistas que insistimos hoje em fazer. Sobre o facto de ter sido a guerra e os guerreiros (leia-se soldados, militares) a alimentar a revolução e a acordar de uma letargia politica aflitiva e asfixiante um povo que, na sua maioria, prefere sempre deixar-se estar como está e não mudar nada, porque mudar incomoda. Essa letargia existe hoje tanto como ontem. Neste contexto questiono-me sobre o interesse de fixar a ideia de 25 de Abril à música do Zeca e do Adriano, aos cravos, ao imaginário estético do realismo socialista de raiz Estalinista (sim porque a revolução de Outubro de 1917 foi a das vanguardas e depois de 1927 as pinturas começaram a ter punhos no ar e foices e martelos e operários e só isso, só isso mesmo), à poesia da Sophia de Melo Breyner, da Natália Correia ou do Manuel Alegre. Questiono-me se não será redutor associar insistentemente a celebração da data a este património cultural tão localizado no tempo. Atenção que a importância artística destes autores não está em causa, antes pelo contrário alguns deveriam ser lembrados mais vezes do que apenas no 25 de Abril. Acho, por outro lado, que as obras dos artistas de hoje também são as da liberdade, as da democracia. Devemos procurar a democracia na nossa cultura actual, na nossa arte. Afirmar a vitória da revolução pela liberdade de fazer novo, de fazer diferente. Chamam-me por vezes pós-moderno, algo que nem sequer está bem definido do ponto de vista teórico, mas creio que verdadeiramente pós-moderno é o burguês que põe o cravo na lapela e canta a Grândola uma vez por ano e que no dia seguinte defende políticas elitistas nas escolas públicas, se opõe aos rendimentos mínimos e compra acções da EDP e da Portugal Telecom e vende ao sabor do mercado anarco-liberal que nos abafa. Aquele que acha normal pagar nos hospitais e nos tribunais e cobrar €1500 por ano a um aluno que frequenta o ensino superior público. O revolucionário da aparência e do folclore é que é o pós-moderno. A democracia serviu e serve também para esses se manifestarem à vontade mas hoje a censura é severa e dura, é perigosa e está legislada como na altura. A censura é aceite e a manifestação controlada, o mais possível muda. Os direitos são lineares e as responsabilidades cívicas deixadas para as polícias que se exigem mais musculadas e violentas com os excluídos. Já me alonguei, já me estiquei demasiado. Para mim o 25 de Abril foi obrigatório, veio tarde demais, é fundamental para que hoje possa escrever este blog e vale pelos princípios da liberdade, da democracia, pelo respeito pelos direitos humanos, de cidadania, pela solidariedade social, pela igualdade, muito pela igualdade, vale por uma ideia de sociedade e de governo que protege os mais necessitados que distribui os recursos e se defende da acumulação ilícita, abusiva, que garante a justiça, combate a fome, recusa a guerra e todos os dias, todos os dias mesmo, trabalha para que os mais novos possam ter uma educação que está enraizada neste valores. Para que eles nunca acabem.

segunda-feira, abril 20, 2009

J.G.Ballard (1930 - 2009)



O mais visionário dos escritores contemporâneos, o homem que escreveu sobre o nosso futuro da forma mais brilhante, extraordinária e acertada, o Júlio Verne que o século XXI merecia, J. G. Ballard, faleceu este domingo aos 78 anos. Autor de "Atrocity Exhibition", "Crash", "Empire of the Sun", "Cocaine Nights", "Super-Cannes" e tantos outros romances e contos deixa-nos uma obra que começa por ser de ficção ciêntifica e entretanto, lentamente, se transforma num relato frio e detalhado do presente como se tivéssmos concretizado finalmente as profecias Ballardianas. A violência do mundo contemporâneo, a separação do real, brutal e absoluta, uma relação fetichista com objectos como automóveis e aviões, desertos pós-modernos como parques de estacionamento, aeroportos e condomínios fechados, um futuro/presente de catástrofe ecológica sem moral e re-escrevendo a ética toda do início... Ballard era tanto que eu nem consigo imaginar a perda!

"The writer’s task is to invent the reality."
J.G. Ballard

"The fact that an event has taken place is no proof of its valid occurrence."
The Atrocity Exhibition



Para quem não conhece podem sempre adquirir algum dos livros acima citados ou ver os filmes "Crash" de David Cronenberg e "Empire of the Sun" de Steven Spielberg, ou mesmo "Aparelho Voador a Baixa Altitude" de Solveig Nordlund, o único filme português sobre um conto de Ballard.

domingo, abril 19, 2009

I Was Once Shot in the Back of My Head


Shot In The Back Of The Head from Moby on Vimeo.
"Shot in the Back of the Head" é a uma música nova do Moby e este é o video feito pelo David Lynch. São 3 minutos de uma animação muito lowfi completamente a pensar na web. Devo dizer que soube disto pelo twitter do Lynch e que agora acompanho minuto a minuto a vida da Amanda Palmer porque ela está completamente viciada naquilo. Vai passar como tudo passa, essa mania, essa urgência de partilhar-mos todos os minutos da nossa vida com milhares de estranhos. Muitos dirão que é puro marketing para estes músicos e artistas que lutam contra as forças do mal simbolizadas em vilões como os do Pirate Bay (outra visão do mesmo assunto) o falecido Baudrillard diria com certeza algo que eu não consigo aqui reproduzir mas que passaria provavelmente pela noção de que esse hiper-realismo é mais um obstáculo à realidade e promove um ciclo infinito de simulacros que nos afasta cada vez mais de uma qualquer noção de realidade, ainda que remota. Já ninguém quer saber da realidade e comportamo-nos como se isto fosse um filme. Até para esta crise, que sempre aqui esteve mas que não existia só porque não era noticiada, imaginamos um final feliz como se isso fosse inevitável, como se a nossa vida fosse construída com as regras de um argumento de Hollywood. Um dia, com os avanços do DNA e tudo, os pais poderão fazer um post no seu twitter com a sinopse da vida do filho que vai ainda nascer... espectacular!

PS: Vi ontem um filme de 2006 "This is England" de que gostei muito. O filme passa-se em 1983 e devo ter, mais coisa menos coisa, a mesma idade de Shaun - Thomas Turgoose do filme Eden Lake, é genial neste filme dedicado à sua mãe falecida em 2005 -, o protagonista . Um miúdo, filho de um militar morto no conflito das Falklands, acaba por encontrar o único refúgio num grupo de skinheads e vive uma experiência de realidade mais brutal do que procurava mas mais rica também. O crescimento da cultura Nacionalista no Reino Unido veio de um sentimento de crise muito próximo do actual e, em última análise, este filme ensina-nos que o ódio e a violência vêm quase sempre de frustrações muito interiores e pessoais. As ideologias fomentam mais violência quanto mais pobres e infelizes são as pessoas nas suas vidas pessoais e são muitas vezes os mais fundamentalistas os que estão mais distantes dos verdadeiros motivos ideológicos, políticos ou religiosos. O ódio está no lado oposto da convicção mas às vezes odeio tanto tanta coisa...

sábado, abril 04, 2009

Coisas que existem e não têm explicação...

<a href="http://amandapalmer.bandcamp.com/track/creep">Creep by Amanda Palmer</a>
Não tem explicação só encontrar isto agora, não tem explicação o poder desta música, não tem explicação outra menina a tocar ukelelee no Gosto Duvidoso (atenção ao bónus), não tem explicação o facto de gostar do twitter, não tem explicação estar, neste preciso momento, a olhar para uma tartaruga que é minha e a adorar, não tem explicação a confusão que está esta casa, não tem explicação este amor novo que sentes, não tem explicação o anjo que dorme na minha cama...

...e ainda bem que nada disto tem explicação. Como deve ser.

A nossa vida às vezes é épica e tu mano sabes isso ainda melhor do que eu...

sexta-feira, abril 03, 2009

From Pinturas e Desenhos

Há coisas que não têm explicação. Como o amor forte, por exemplo. Acontecem e pronto. Também há coisas que se explicam demasiado, são previsíveis e lógicas. Eu tenho a mania de tentar explicar tudo mas continuo a preferir as coisas que não têm explicação e a vivê-las da forma mais intensa que consigo.