sábado, julho 27, 2013

E se houvesse exames para Ministro?

Nuno Crato não desiste de adoptar medidas más e injustas contra alunos e professores, aliás na senda de muitos dos seus antecessores.

Agora quer o exame para acesso ao exercício da profissão docente. Um exame parecido com o da ordem dos advogados, esse mesmo que está prestes a ser considerado ilegal pelos tribunais.

A ideia nem sequer foi dele, foi de Maria de Lurdes Rodrigues, mas ele gosta. Ele adora exames.

Eu pergunto: Para que servem as Escolas Superiores de Educação? Para que servem as Universidades? Para que servem as centenas de professores do ensino superior que leccionam disciplinas de desenvolvimento curricular, pedagogia, psicologia da educação e afins?

O diploma certificado obtido por cada professor, na sua profissionalização para a docência, reconhecido por Bolonha e pelo próprio MEC - que tutela igualmente o Ensino Superior - não é válido para o mesmo MEC, que o quer substituir por um exame nacional que mais não pode fazer do que avaliar generalidades e ter critérios ambíguos.

Isto porque tal exame, pelo menos na sua componente comum, não obedece a um currículo único, um conjunto de competências e objectivos definidos e universais, trabalhados nos diversos cursos Universitários.

Esse exame não pode avaliar a diversidade de formações entre os professores e entre as diferentes visões da educação veiculadas nas Universidades e tenderá a afunilar essas mesmas formações e competências diversas para responder apenas àquelas perguntas, daquela matriz.

Nunca será eficaz na prova de que o candidato a professor domina as matérias cientificas constantes dos programas das disciplinas, até porque estas são tantas vezes pouco consensuais e demasiado abrangentes. Um grupo disciplinar chega a poder leccionar quatro ou cinco disciplinas diferentes com níveis diferentes.

O exame nunca irá provar nada da capacidade prática do professor em ensinar porque mais não é do que uma prova teórica cega.

O exame não terá impacto na qualidade das escolas porque, para além dos motivos mencionados, se aplica apenas aos professores contratados.

Esta mania de tratar as competências profissionais e educativas dos portugueses como se isto fosse uma linha de montagem tayloriana, que faz parafusos todos iguais, é de uma pobreza intelectual de bradar aos céus. Esta mania de que um exame é um espécie de esfregona moral que tudo limpa e certifica é de um facilitismo organizacional próprio dos maus gestores.

A história do 14 como mínimo é completamente parva porque não representa nenhum grau real de exigência, é mesmo só para inglês ver. Qualquer exame pode ser trabalhado para qualquer nota mínima, a nota pouco representa.

Como não acredito que Nuno Crato seja um menor intelectual só posso deduzir uma coisa: este processo tem por objectivo reduzir o acesso à profissão por via administrativa, a muitos professores, e com isso poupar algum dinheiro.

Mas porquê este processo enviesado?

É simples. Porque quem não é intelectualmente honesto só pode pensar em soluções para os problemas distorcendo os dados dos mesmos problemas. Não consegue ver as mais simples soluções porque parte do princípio de que os outros vigarizam tudo.

São sempre os que dobram as regras aqueles que criam regras mais inflexíveis. Projetam-se naqueles que tutelam.

Nuno Crato não confia em ninguém, não confia nas competências dos alunos e muito menos nas dos professores.

O Ministro não tem de inventar processos paralelos, inúteis e dispendiosos para impor medidas castigadoras aos jovens professores. Ou há vagas ou não há. Tem formação ou não tem. A formação para professor deve estar na alçada das Universidades e a sua avaliação e acreditação também.

Que exame é esse? O que pode ele perguntar? Mesmo depois de ler a proposta de Decreto Regulamentar tenho dificuldade em imaginar.

Posso ainda assim imaginar um exame para Ministro da Educação e as respostas que o Professor Nuno Crato daria às mais simples perguntas.

quarta-feira, julho 24, 2013

And Now for Something Completely The Same!

Depois da exigida remodelação, no governo há caras novas mas ideias velhas.

Mais um do BPN, essa Universidade de Inverno do PSD, desta vez nos Negócios Estrangeiros. É sempre bom para a credibilidade manter homens da confiança de Oliveira e Costa no Governo. Isto para além daquele que mantemos na Presidência... Dá um outro sentimento de estabilidade aos mercados e aos eleitores. Assim temos a certeza de que tudo continuará na mesma.

No ambiente um especialista, mas não estou a ver que interesse Passos Coelho possa ter pelo assunto e um economista fala barato do CDS/PP na Ministério da Economia que vai fazer coisa nenhuma porque nenhuma coisa está planeada para além de cortes, cortes e mais cortes.

Paulo Portas vai ser Vice PM. É uma óptima ideia pôr Portas sem nada que fazer mas com cadeira de camarote a controlar tudo. Será o ministro sem pasta que vai assinar em privado e rejeitar em público. Uma boa medida para quem gosta de ter facas espetadas nas costas, mas enfim...

Hoje vi o Helder Rosalino na RTP e ia jurar que no intervalo do governo plantou mais três cabelos. Acho que ele planta um sempre que garante uns quantos despedimentos na função pública. Ou arranca, confesso que é complicado acompanhar. O objetivo final da reforma na função pública deve ser ficar apenas com os motoristas do governo e uma ama para a criança da Assunção Cristas que vem aí.

Com tudo isto e com a ajuda de Pires de Lima ficaremos a saber que o novo sabor do governo para o Verão é...

Exatamente o mesmo, apenas servido em garrafas da Super Bock!

segunda-feira, julho 22, 2013

"Tudo como dantes no Quartel-General em Abrantes"

Este ditado popular, com raízes nas invasões Napoleónicas, é um símbolo do conformismo e subserviência portuguesa a forças invasoras.

Cavaco Silva é o Presidente que se esforça para manter no governo aqueles que vendem facilmente o país em troca de benefícios desconhecidos. Cavaco está mais preocupado com os rendimentos certos dos senhores dos mercados do que com a qualidade de vida da democracia portuguesa.

Um exemplo. Um senhor do PSD, Pedro Pinto de seu nome, veio hoje afirmar que "dois terços do programa de assistência já foram cumpridos com sucesso e teremos um novo ciclo de ação governativa em que a prioridade é o crescimento económico e o emprego".

Tudo isto é mentira exceto as questões de calendário. É mentira e toda a gente o sabe. Toda a gente sabe que vêm aí mais medidas de austeridade, mas despedimentos, mais desemprego e provavelmente mais impostos ou cortes de vencimento na função pública. Estamos mais perto de um segundo resgate do que de qualquer resquício de sucesso. E, finalmente, estamos muito longe de ter um novo ciclo governativo com os mesmos senhores no governo.

Mas este fulano vem mentir para a televisão porque em Portugal ter vergonha na cara não se usa. Ser mentiroso, desde que se tenha acesso à televisão, é motivo de orgulho para a família. É uma cena política. Funciona.

Passos Coelho acha que "o país precisa de quem não acalente a fantasia de uma súbita e perpétua vontade de o Norte da Europa passar a pagar as nossas dívidas provavelmente para sempre". Parece que estamos a ler algo dito pelo ministro das finanças alemão.

O Primeiro Ministro não está do nosso lado. Está contra nós. Um homem que ainda há uns anos andava com manigâncias a sacar subsídios para cursos de formação fictícios com a ajuda do seu amigo Relvas agora dá lições de moral e de macro-economia.

Não foram os portugueses que inventaram a crise da dívida soberana, que afeta muito mais países, e não se sabe quem pagará o prejuízo da governação de Passos Coelho mas também já se percebeu que o "Norte da Europa" andou a lucrar com a crise do Sul em vez de pagar facturas.

Foi a este tipo de mentalidade que Cavaco nos entregou de mão beijada. A um governo que, dizem, nem ele sabe bem por quem é constituído. Quem é vice ou "czar" da economia ou o raio que o parta.

Este estado de coisas não vai terminar tão cedo e a incompetência governativa vai-nos acompanhar agora "até ao fim da legislatura". Sim,porque aquelas eleições que nos foram prometidas para o ano afinal já não interessam ao Presidente.

Bem vistas as coisas Abebe Selassie e companhia são uma espécie de General Junot e Passos Coelho um D. João amedrontado e resignado. Só lhe falta um dia fugir para o Brasil mas pouco há-de faltar para algo parecido.

"Tudo como dantes, no Quartel-General em Abrantes"

 

sexta-feira, julho 19, 2013

O que se segue agora?

Agora que não há acordo o que se segue? O PSD e o CDS-PP parecem demasiado interessados em cumprir o acordo de entendimento com a Troika. O PS não podia cair na armadilha e aceitar uma não solução que consistia basicamente em aceitar tudo o que o governo quer ou o caos. Nunca houve nenhuma base para apoio realmente proposta pelo Presidente. A possibilidade do acordo partia do princípio da admissão de que a governação tem corrido bem e tem um sentido. Não tem.

Seguro fez um mau discurso na TV. Muito inseguro e a dar razão aos que duvidam de si. Deveria ter sido mais peremptório. Mais duro. Convenhamos que aceitar um acordo seria mau para o país. Seria pior do que deixar cair o que já caiu. Mas apesar de tudo as alternativas deveriam ser mais claras e mais bem comunicadas.

Cavaco criou uma crise sem paralelo e agora, depois de duas piruetas e um mortal, vai voltar a depositar a confiança no Governo. Como se fossemos todos parvos. Vai ficar tudo na mesma e aquela remodelação falhada vai em frente.

Uma das soluções imediatas é o próprio Cavaco renunciar mas estou a delirar. Na melhor das hipóteses foge para as Selvagens.

O interesse suicida em continuar a destruir o país, sem vincar novas posições com a Europa que permitam uma existência económica e social sustentável vai levar ao afundamento financeiro definitivo. Vai levar a uma crise ainda mais profunda.

Agora vem aí um segundo resgate. Provocado pelo primeiro. Pela incompetência dos que gizaram o primeiro. A começar pela Troika e a acabar nos responsáveis portugueses. É estranho, por exemplo, o facto de muitas das imposições da Troika serem fundamentalmente políticas e não necessariamente económicas ou que conduzam a alguma melhoria económica, como é o caso de algumas privatizações em saldo por meia dúzia de trocos. Não é aceitável esse tipo de imposição.

As reformas fazem-se em décadas. Alguns dos compromissos de redução da despesa são políticas que demoram muitos anos a consolidar e não é exequível o plano da Troika que o quer fazer em dois ou três anos. Toda a gente percebe isso.

Se não é exequível então porque se insiste? Que interesse é esse em insistir em algo que é inexequível com tanta vontade?

Essa é a suspeita sobre o Governo. Se o programa não é do interesse do país, porque está visto que não tem efeitos positivos sobre a economia, então é do interesse de quem?

A quem interessa realmente esta austeridade pela qual se luta tanto?

 

quinta-feira, julho 18, 2013

Porque duplicam os lucros do Goldman Sachs em plena crise bancária?

Lloyd Blankfein é o CEO do Goldman Sachs.

A "austeridade" é o processo que os "mercados" inventaram para financiar o lucro dos bancos de investimento como o Goldman Sachs que agora se noticia. Com a ajuda preciosa de clientes e colaboradores, colocados em cargos políticos com grande poder, estes "bancos" vão manipulando as finanças dos países através da especulação sobre os juros da dívida e aproveitando as oportunidades de negócio criadas pelas privatizações dos negócios públicos mais rentáveis. Essas privatizações são impostas por intermédio da chantagem política dos seus agentes colocados por todo o mundo em organismos como o FMI, o BCE, a Comissão Europeia ou mesmo dentro dos governos dos países.

O aumento de impostos e a poupança gerada pelo emagrecimento forçado dos Estados permite o pagamento de juros altíssimos. Esses mesmos juros que nos são vendidos pelos média como resultado da "incapacidade produtiva" dos povos e do demérito das suas economias.

A nossa pobreza financia diretamente a acumulação de capital desta "gente".

O que irrita mais é o facto de os nossos políticos continuarem a promover o enriquecimento destas mega-instituições sem aparente contradição pública dos muitos "especialistas" que vão cuspindo palavras nas TVs e nos jornais.

Nós vivemos acima das nossas possibilidades, eles não.

Os Antónios Borges, os Medinas Carreiras, os Coutos dos Santos, os Gaspares e muitos outros são os porta-voz da limpeza moral que se está a promover via este estrangulamento económico.

Em primeiro lugar convence-se os portugueses, diariamente pelas televisões, de que são uns miseráveis improdutivos. Que vivem acima das suas possibilidades.

Depois desvia-se o dinheiro produto da poupança nos salários e do aumento dos impostos para o pagamento da dívida enorme que se acumula por intermédio do aumento de juros explosivo e por meio da influência política na promoção de negócios ruinosos como foi o caso dos Swaps.

Pior ainda, o prejuízo dos bancos falidos por causa do estrangulamento que os mega-bancos exercem sobre outros mais pequenos ou apenas porque a insustentabilidade do seu negócio é por demais evidente é pago pelos contribuintes.

Perante isto é cómico/trágico o modo como se construiu uma ilusão coletiva que faz de qualquer um ser racional, que se revolta contra este estado corrupto das coisas, um comunista, um criminoso, um despesista desprovido de inteligência.

Tanta burrice travestida de conhecimento só convence os povos menos educados... é o nosso caso.

sábado, julho 13, 2013

O dia em que se ficou a saber que a educação pode mudar o mundo.

Foi o espanto e a agitação geral na assembleia da ONU quando Malala Yousafzai, uma ativista paquistanesa de 16 anos, bloguista, defensora dos direitos humanos e do direito à educação, sobrevivente de um atentado taliban, proferiu a seguinte declaração:

“Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação primeiro.”

Os presentes aplaudiram as palavras mas não muito longe dali as reações foram bem diferentes.

O Goldman & Sachs e o JP Morgan pediram que Malala frequentasse de imediato e compulsivamente um curso organizado pela Reserva Federal para perceber melhor o que pode ou não mudar o mundo. O tipo que criou aquele avião drone bombardeiro de longo alcance que faz tudo sozinho ofereceu-se para fazer uma demonstração a Malala. "Pomos um árabe no meio do deserto com uma caneta e um livro e mandamos o X-47B mostrar-lhe quem pode mudar o mundo" afirmou o engenheiro especializado em armamento.

Em Portugal, ao ver a notícia, Pedro Passos Coelho liga a Aníbal Cavaco Silva de urgência e este diz-lhe que a estabilidade política e dos mercados não pode ser posta em causa por uma garota árabe de 16 anos.

Em resultado foi convocado um Conselho de Ministros extraordinário, na nave central do Mosteiro dos Jerónimos, mas sem a presença de Maria Luís Albuquerque "Vou à faculdade ler uns livros..." e Paulo Portas "Agora não me dava jeito, tou a fazer um sacrifício em nome do estado!".

Miguel Macedo propôs enviar um SMS à Troika com a pergunta:

"Vimos por este meio confirmar se um consultor financeiro, um grupo de investidores de risco, um banco e um daqueles quadros cheios de números e luzes se mantém como o modo oficial de transformar o mundo."

Poiares Maduro defendeu a criação de um Ask.fm do governo para responder às dúvidas dos banqueiros mais aflitos.

Fontes não oficiais revelam que Nuno Crato afirmou durante o Conselho de Ministros que iria ligar para o Paquistão para propor o sistema dual para que nunca mais uma miúda de 16 anos tivesse esse tipo de atrevimento. O Ministro da Educação chegou mesmo a afirmar com segurança "Malala chumbaria no exame de matemática com certeza! Queria vê-la a pagar explicações com uma caneta ou um livro!".

Paula Teixeira da Cruz afirmou indignada "Eu pensava que as gajas árabes não iam à escola!". "Modernices..." retorquiu Assunção Cristas.

Entretanto, ao telefone, Angela Merkel garantiu a Passos Coelho que Malala era amiga de Snowden no Facebook e que por esse motivo todas as verdades que dizia eram por defeito mentiras de acordo com comunicado da Casa Branca. Obama, que estava a ouvir a chamada pelo Prism, acrescentou que tinha provas de que Malala era uma agente infiltrada do Wikileaks porque Assange lhe tinha feito "like" num post.

A Standard & Poor's desceu em dois pontos o rating do Paquistão e classificou como lixo as declarações de jovens activistas na ONU. Os juros da dívida portuguesa aumentaram na sequência desta crise de valores.

 

sexta-feira, julho 12, 2013

O vidente de Belém gosta pouco de democracia.

"[...] Em terceiro lugar, deverá tratar-se de um acordo de médio prazo, que assegure, desde já, que o Governo que resulte das próximas eleições poderá contar com um compromisso entre os três partidos que assegure a governabilidade do País, a sustentabilidade da dívida pública, o controlo das contas externas, a melhoria da competitividade da nossa economia e a criação de emprego.[...]"
Aníbal Cavaco Silva, 10 de julho de 2013

Aníbal Cavaco Silva ou é vidente ou não tem respeito nenhum pelo sentido de voto dos portugueses. Promete convocar eleições legislativas dentro de um ano mas já sabe de antemão que resultado estas vão ter.
Afirmou-o publicamente nas televisões do país. A democracia e a vontade popular está em desuso para os lados de Belém. Esta situação concreta é mais uma prova do golpe de estado que estes mangas de alpaca devotos da religião do dinheiro estão empenhados em levar ao fim. Na Madeira Alberto João, o protegido, pede o estado de emergência e uma nova Constituição numa declaração vergonhosa publicada oficialmente no site do Governo Regional.
Pede-se despudoradamente a suspenção da democracia para que os cidadãos não vetem a espoliação do povo para sanear as contas das instituições financeiras acumuladas por via da especulação.
É inadmissível que seja o Chefe de Estado a mostrar tal desrespeito pela normalidade democrática e pelo escrutínio popular. Quando é para votar a favor da normal aplicação de direitos constitucionais a pessoas com preferências sexuais diferentes a direita portuguesa, economicamente liberal e socialmente conservadora, clama por referendos populares. Quando se trata de eleger um governo já não gosta do voto popular porque os seus interesses económicos e o prolongamento da sua estada no poder não podem ser comprometidos.

quinta-feira, julho 11, 2013

No Cavaquistão quem não manda é o cidadão.

Cavaco Silva habituou-nos à desilusão e à ambiguidade. Ele é a imagem da derrota da nação, do desânimo. O seu rosto inexpressivo e cinzento promove a falta de esperança que as suas palavras parecem querer gravar nos nossos túmulos. E vemos Portugal a parar, a morrer às mãos daquele cinzentismo , daquela falta de imaginação, daquela falta de paixão e falsa austeridade.

Cavaco é uma espécie de Dr. Kevorkian na cabeceira de um Portugal moribundo, depois de um grupo de técnicos medíocres, seus aprendizes, nos ter deixado em coma.

Parece telecomandado por um macaco, de tal modo se apresenta desligado do que diz e o que diz desligado de tudo o resto.

Ninguém o entende porque, mesmo lendo palavras escritas, foi incapaz de criar um sentido inequívoco, uma direção ou uma linha de ação clara e evidente. Com as suas frases mal ditas, mal lidas, mal escritas ficamos a saber menos sobre o futuro do que já sabíamos. Cavaco é também um moralista pragmático. A moral interessa-lhe de ponto de vista do controlo social. Nada de maluquices e pouca participação. Para Cavaco ser presidente é igual a ser dono de um galinheiro industrial. Nós somos as galinhas e ele vai deixando, para que o negócio se mantenha, que as condições do galinheiro fiquem cada vez piores e os frangos vendidos mais baratos. Importante é o negócio, o mercado e fazer feliz a Maria. A salmonela faz parte, assim como o desemprego. Azar.

Tenho olhado para as notícias como quem olha para uma corrida perdida, mas com o desejo tonto, secreto, de um sprint final que nos qualifique para a fase seguinte. À espera da sorte, do talento, mas nada. Neste contexto nada mesmo nos vai salvar.

Nunca mais me esqueço da inevitável desaceleração de Fernando Mamede. Quando tudo podia acontecer e a vitória estava ainda ao seu alcance eis que faltavam as pernas e a cabeça ao corredor português e ele ia parando, devagarinho, enquanto os nossos olhos e punhos cerrados pareciam querer empurra-lo para a frente. Impossível, Mamede desistia.

Aprendemos com Cavaco que não vale a pena esperar, puxar por ele, torcer por uma medida inteligente, na defesa dos portugueses. Nem a esperança vaga e lusa que o talento enorme de Fernando Mamede nos fazia sentir o nosso Presidente nos provoca. Nem isso. Cavaco provoca tudo menos uma emoção.

Depois de o ouvirmos ficamos com a ideia de que não há governo. Que ele não concorda com este mas também não discorda e quer mais do mesmo. Quer ser ele a escolher. Ele e um amigo.

Não sabemos que amigo mas a julgar por alguns deles tenho algum medo. Cavaco sempre andou com más companhias.

Daqui por um ano temos eleições. Mas atenção. Ele já definiu o seu resultado e já decidiu quem irá governar depois delas. Portanto não se desgaste a votar.

A democracia, esse incómodo constitucional que impede o país de ser rico e bem sucedido, tem um valor relativo quando comparado com os mercados ou os interesses dos "investidores".

Nem os seus apoiantes perceberam bem qual é o seu plano. Governo a três? A dois, com o terceiro a olhar? Com promessa de uma perninha, quiçá dois ministérios, em 2014...

Governo de amigos do presidente? Votar é que não porque nós não sabemos escolher e portanto, para nossa defesa, devemos ser afastados da esfera da decisão.

Livrem-nos da vontade popular e da decisão do povo. No Cavaquistão quem manda menos é o cidadão. Mais nada!

 

quarta-feira, julho 03, 2013

O caso do avião de Evo Morales

O caso do avião de Evo Morales é muito grave. Muito mais grave do que à partida nos querem fazer crer.

Um chefe de estado democraticamente eleito foi proibido de aterrar em Portugal com o seu avião oficial. Mais do que isso foi impedido de utilizar o espaço aéreo português. Não foi só Portugal a tomar esta decisão. França e Itália também participaram nesta farsa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros, esse que não tem ministro, ou tem, não se sabe, diz que "considerações técnicas" ditaram a interdição de aterragem, uma vez que depois de estar já pousado em Viena, autorizaram o sobrevoo. Considerações técnicas? Isso quer dizer o quê?

Será que o avião não cumpre as exigências da Zona de Emissões Reduzidas de Lisboa? Não creio.

Não há motivos para esta quebra de confiança com o Estado Boliviano e exige-se uma explicação plausível e verdadeira sobre esta medida anti-diplomática que se toma apenas com inimigos.

Em Portugal é assustador o vício da mentira e do encobrimento. Um despudor verdadeiramente nojento que está enraizado no modo fazer política.

Toda a gente sabe que o avião foi proibido de aterrar por se suspeitar que Edward Snowden ia a bordo.

O que eu gostava de saber é o que é que o governo de Portugal tem a dizer sobre Snowden. Estará proibido de entrar em Portugal? Porquê?

Já recebemos em Portugal ditadores em comitivas extensas alapadas em tendas, reuniões informais para combinar embustes que levaram a guerras, reuniões do Bildenberg e outros meliantes. Sempre com imensa hospitalidade. Quando foram os prisioneiros para Guantanamo a atitude Portuguesa foi bem diferente.

Edward Snowden mostrou-nos a todos que o governo americano nos espia descaradamente e nós, em vez de pedir-mos explicações como deve ser, tornamos o mensageiro "personae no gratae". Boa!


Actualização:

Hoje, dia 4 de julho, o Ministro Marques Guedes afirmou, em conferência de imprensa, que desconhecia a origem da ordem dada no sentido de proibir a aterragem do voo de Evo Morales. Ou seja, aquele rapaz que se demitiu antes de ontem, tem agora um novo motivo para se demitir uma vez que nem sequer governa o seu ministério e o usa apenas para os seus jogos palacianos. Por seu lado os EUA negam qualquer intervenção no caso.

Eu reafirmo a profunda vergonha que sinto pela atitude do governo português que se portou de forma indigna e que se justifica sem pudor com a sua absoluta incompetência e desorganização como se isso não fosse, por si só, um motivo de embaraço.

 

Marcelo, os comentadores e a "narrativa" do armagedão económico.

Ouvi ontem Marcelo na TVI, num comentário especial por telefone, falar da irresponsabilidade de Portas e da sua substituição no PP. Está visto que está choné. Acredita num governo até ao fim da legislatura com Assunção Cristas como líder do PP. Gargalhada total! Entretanto os ministros do PP já preparam a saída, fieis ao líder.

Também diz uma mentira grave, como já é habitual. Diz que a situação económica se agravou porque Portas saiu. É mentira! É mentira porque nada mudou na economia portuguesa de ontem para hoje. Continua tão miserável como Gaspar fez questão de a deixar.

É a narrativa do desespero. E este é só o episódio piloto de uma série muito longa.

Lá fora os suspeitos do costume, na comissão europeia ou no governo alemão, ameaçam já o próximo primeiro ministro. Tal é o desejo de nos ver no chão.

Um novo governo é uma situação normal em qualquer país. A Europa agora é que diz quem pode ou não pode ser governo? Que treta. Os governos europeus do norte querem suspender a democracia no sul para continuar a gerir, por intermédio de uns quantos Passos Coelhos, os seus interesses económicos e proteger o seu domínio na liderança política e económica da Europa.

Passos Coelho alinha nesta ideia. Sem ele a Europa deixa de acreditar em nós. Mas porquê? A Europa sabe tão bem como nós quão miserável é Passos Coelho como primeiro ministro. Outro qualquer fará, na pior das hipóteses, tão mau quanto ele.

Os mercados tremem com a democracia. Mas que regime é este que especula sobre a democracia. Em que os povos são intimados a escolher governos que protejam os interesses dos donos do dinheiro. Sob ameaça de falta de financiamento. Tudo no mundo é financiado. Tudo gira à volta da circulação do dinheiro, à volta dos bancos, das bolsas e mercados de bens, mas sobretudo de capitais.

Ontem mesmo, nos últimos minutos, subiram juros da dívida, desceram cotações da bolsa daqui até Berlim. Só faltou dizerem que tinham morrido todas as borboletas na China. Esta volatilidade é completamente parva e só mostra como o sistema é instável e especulativo e precisa de uma séria reforma. Aceitar estas consequências como inevitáveis é aceitar sermos escravos da estupidez, é aceitar sermos condenado à pobreza e ao endividamento eterno.

A narrativa de que a desgraça económica, um verdadeiro armagedão, virá se houver eleições vai tentar os portugueses nas vozes de Marcelo, do próprio Passos ou dos habituais comentadores "especialistas" para quem o crónico cagaço dos mercados justifica tudo.

É preciso contrariar este discurso. O melhor para a economia é dar a voz a quem vota. As teorias económicas dos liberais, defensores da ditadura do mercado, conduzem sempre ao autoritarismo e à subserviência da democracia às lógicas perversas da acumulação do capital.

É preciso um governo novo, forte, com consensos partidários que envolvam a defesa da dignidade do Estado e dos cidadãos contra os interesses totalitários da Europa. Não há espaço hoje para uma ideologia de direita que defende o status quo e os interesses dos grupos financeiros acima das pessoas. Há sempre dinheiro para o que é preciso. Depende agora se é mais importante pagar swaps manhosos e aguentar juros de 7% ou manter apoios sociais, apoios ao emprego, salários condignos e serviços públicos de qualidade.