sexta-feira, outubro 02, 2015

O Voto Urgente.

No domingo vou votar com sentido de urgência. Vou votar de coração aos pulos. Vou votar pela minha filha, pelo trabalho da minha mulher, pelo meu trabalho, pela escola pública, pelo ensino artístico, pela arte e pela cultura portuguesas. Vou votar em minha defesa, em nossa defesa.

Vou votar CONTRA a Coligação Portugal à Frente.

Para impedir que continuem a empobrecer e a desertificar o nosso país.

Para impedir que a nossa pobreza financie a riqueza de meia dúzia de dirigentes partidários, empresários obscuros ou banqueiros linguarudos. A saúde dos nossos pais, a educação dos nossos filhos, o trabalho que produzimos, as musicas que cantamos, os quadros que pintamos, as esculturas que construímos, os livros que escrevemos, as peças que encenamos é que são Portugal. Não essa coisa pastosa que se passeia na televisão a arrotar postas de pescada sobre produtividade, sustentabilidade ou crescimento.

Portugal não é uma dívida que se paga a desconhecidos. Não é um nome atrás de uma nota de rating escrita por um americano que não nos sabe apontar no mapa. Não é o desejo de Merkel nem de Schaüble.

Portugal não é Passos Coelho muito menos a sua hiperTecnoforma onde vai encobrindo com o dinheiro dos impostos a sua própria incompetência. Passos o viciado em mentir. Aquele que hoje diz uma coisa e amanhã o seu oposto para defender sempre a mesma ideia: que mais pobres seremos mais ricos. Não há nobreza nem riqueza na pobreza. Há apenas fome e miséria.

Votar em Passos Coelho é votar a favor da pobreza. Da nossa ou do vizinho. É votar no Paulo Portas dos submarinos, a bailarina irrevogável que se ri da nossa credulidade. É votar no partido de Oliveira e Costa e Dias Loureiro, no partido de Duarte Lima, de Miguel Relvas, o doutor, Miguel Macedo e o esquemas dos vistos dourados. É votar em Maria Luís que fez swaps ruinosos e mentiu no parlamento vezes sem conta. É votar em Bruno Maçães, Nuno Melo e nas visões distorcidas que têm de liberalismo financiado por impostos. É votar nos esquemas de Marco António Costa. É votar em Cavaco Silva, outra vez.

Já sei que está a pensar em Sócrates. Tenho uma resposta: Não vote em Sócrates. Vote noutro qualquer. É simples. Mas vote. Não se renda. Não deixe que outros decidam por si. Não seja o papalvo que se queixa mas não faz nada. Acredite que há gente capaz, inteligente e com outras ideias. Não faça aquele papel dos que dizem mal dos políticos e votam sempre nos mesmos. Salve-nos a todos da miséria e Vote Noutro Qualquer.


quinta-feira, agosto 13, 2015

Publicado no meu Facebook

Interessante esta notícia do Financial Times uma vez que o nosso governo chegou a dizer que a emigração era boa! Já ninguém se lembra? Também parece piada mas Passos Coelho não admite que a crise económica promovida pelo seu partido e pelos seus amigos alemães promoveu uma baixa natalidade. Há zero de apoios à natalidade neste país colaboracionista. Vamos desaparecer antes do final do século e ninguém que governe este país quer saber. A hipocrisia é o desporto perfeito na governação de Portugal e os lugares políticos mais não são do que trampolins para empregos com ordenados chorudos ou grandes negociatas. Propor às mães trabalhar menos horas e consequentemente ganhar menos num país com os salários mais baixos da Europa só pode ser piada de mau gosto. As crianças ficam caras, muito caras e sobretudo quando são mais crescidas, quando a pobreza do país e os salários baixos contam mais do que as horas de trabalho. Nessa altura já Passos tem o seu ordenado ou pensão choruda. Pense bem Vote Noutro Qualquer. #VoteNoutroQualquer from Facebook
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terça-feira, agosto 11, 2015

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É debatível se o erro dos marketeers do PS é maior ou não do que este caso da campanha eleitoral da coligação. Não vou por aí. O que salta à vista é a incompetência e burrice destes fulanos que assumem responsabilidades dentro dos partidos. É deste material que se fazem os nossos ministérios e secretarias de estado. Depois admirem-se. Vote noutro qualquer. #VoteNoutroQualquer
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José António Fundo

É debatível se o erro dos marketeers do PS é maior ou não do que este caso da campanha eleitoral da coligação. Não vou por aí. O que salta à vista é a incompetência e burrice destes fulanos que assumem responsabilidades dentro dos partidos. É deste material que se fazem os nossos ministérios e secretarias de estado. Depois admirem-se. Vote noutro qualquer. #VoteNoutroQualquer from Facebook
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segunda-feira, agosto 10, 2015

Alemanha lucrou cerca de 100 biliões de euros com a crise na Grécia

Um estudo da universidade de Leibniz concluiu que a aleManha lucrou cerca de 100 biliões de euros com a crise na Grécia e, com certeza, em Portugal etc. etc... Afirmam mesmo que a poupança em juros da economia alemã excede o custo do prejuízo de um eventual default da dívida grega. Mas não. Venham daí os que acham que o que está em causa é uma lição de moral para os devedores...

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Flight to safety ‘gave Germany a €100bn profit from Greek crisis’ | The Times

Um estudo da universidade de Leibniz concluiu que a aleManha lucrou cerca de 100 biliões de euros com a crise na Grécia e, com certeza, em Portugal etc. etc... Afirmam mesmo que a poupança em juros da economia alemã excede o custo do prejuízo de um eventual default da dívida grega. Mas não. Venham daí os que acham que o que está em causa é uma lição de moral para os devedores...
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domingo, julho 26, 2015

O sistema dual Austríaco serve a Portugal?


fonte: jornal Público de 26 de junho de 2015

Ao lermos esta notícia do Público sobre o sistema dual na Áustria ficamos inicialmente com a impressão de que encontramos o paraíso. Quando avançamos na notícia e, sobretudo, quando avançamos na interpretação do que representa o que está la escrito a imagem perfeita começa a desvanecer e uma outra bem diferente emerge. A tentação básica é imitar o "paraíso" mas rapidamente este modelo se pode tornar num "inferno". Vejamos: 
  1. O desenvolvimento industrial da Áustria é muito diferente do português e com ele desenvolveu-se este modelo de formação dentro das empresas. São cerca de 500 anos de história a ligar a formação industrial e as empresas. Por outro lado o mercado interno austríaco é muito mais pujante. É um país mais rico com uma economia mais forte e virada para dentro. As empresas têm uma cultura de formação diferente da nossa. Ou tinham. O modelo de mercado de trabalho neo-liberal implementado por toda a Europa vai estourar com a colocação de jovens nas empresas muito em breve e já há sinais disso. Os depoimentos na notícia mostram isso mesmo.
    “No passado, fazia-se a aprendizagem numa empresa e ficava-se lá a vida toda até à idade da reforma. Agora é como em toda a Europa, há uma maior mobilidade das pessoas”

    "é cada vez mais difícil encontrar empresas que aceitem aprendizes."
  2. Na sociedade austríaca o trabalho manual não é tão visto como trabalho menor em termos do seu estatuto social e a diferença salarial é menor. Por cá a nossa cultura impõe um olhar completamente diferente em termos sociais e os salários fazem muita diferença. O trabalho manual é uma condenação à pobreza e ninguém deseja ser pobre. Não se pode imaginar que alguém o aceite. Uma coisa está ligada à outra, a um menor estatuto corresponde um nível de recompensa salarial menor. Não é verdade que o mercado neo-liberal seja meritocrático ou reproduza a produtividade económica, ele é sobretudo preconceituoso e conservador. Tende a manter no poder os que já lá estão com o argumento da estabilidade. A Áustria já percebeu isso e o seu modelo é um forte entrave à mobilidade social. Os ricos mantêm-se ricos e vão ficando mais ricos e os outros amanham-se. As tensões criadas são insustentáveis e o modelo começa a quebrar e pede mudanças.
  3. O sistema austríaco é um sorvedouro de dinheiro público que qualquer troika consideraria impensável. Os subsídios de desemprego são altíssimos para jovens e um rendimento anual inferior a 30 mil euros fica isento de impostos. Bem vistas as coisas se estes números fossem avançados para a Grécia dariam origem a imensos posts indignados no facebook. Não vejo como seja possível em Portugal, com a nossa cultura empresarial, financiar as empresas para formação de jovens sem que isso se tornasse num gigantesco modelo para criar trabalho barato. Para além do mais o sistema austríaco mascara o desemprego jovem:
    “Se tivermos disponibilidade financeira para pôr no terreno medidas muito variadas, pode-se ‘esconder’ muitas pessoas que, de outro modo, estariam desempregadas, reconhece Peter Dominkovits."
  4. O que se tentou fazer em Portugal nada tem a ver com a Áustria, apenas as partes más ou nem isso. Não há apoios ao emprego jovem e os cursos "vocacionais", só por se chamarem assim não vão absorver a eficácia do sistema austríaco. São uma cópia de fraca qualidade que não produz emprego nem formação específica de qualidade. Não há dinheiro para investir nem as empresas têm capacidade para oferecer emprego a quem quer que seja. Os estágios acabam por ser uma infindável fonte de trabalho gratuito ou pago pelo Estado. Para implementar um sistema destes tem de haver procura no mercado de trabalho (lembrar que na Áustria isto leva 500 anos). Em Portugal a única procura que existe é por trabalho gratuito. 
Em conclusão, é preciso ser muito inocente do ponto de vista político e educativo para se imaginar que se implementa um sistema destes em Portugal de um ano para o outro. Essa tentativa, desorganizada e sem fases definidas ou objetivos concretos vai degradar o sistema atual e acentuar a falta de mobilidade social já existente em Portugal com a agravante de que no nosso país acarreta uma grave assimetria económica. O nosso problema é sobretudo económico e cultural e não educativo. Aliás a fácil colocação no estrangeiro dos nossos profissionais é a prova disso mesmo.

Para reduzir o número de alunos a concorrer às Universidades o governo criou entraves à entrada aos alunos dos cursos profissionais ou vocacionais. Nuno Crato afirmou que queria metade dos jovens portugueses nestes percursos, daí se depreende que quer muito menos licenciados. Se em Portugal os licenciados têm mais emprego que os outros já se percebeu onde isto vai dar. Acentuam-se mais as diferenças. Por outro lado o discurso do ministro, contraditório ao modelo que ele próprio tenta implementar, vai no sentido de maior exigência e da crítica severa aos níveis de exigência científica do ensino português, atirando os percursos profissionais ou vocacionais para uma espécie de gueto educativo. O ministro acentua, com o seu discurso, o problema de imagem da formação vocacional que, por exemplo, já existe na Áustria e eles gostavam de resolver.

Não estamos preparados nem culturalmente (se alguma vez estivermos ou sequer se isso é desejável) nem economicamente para implementar o modelo austríaco. Um modelo baseado numa forte despesa pública e que ainda assim não promove a igualdade de oportunidades, instrumentalizando os mais pobres para as tarefas mais físicas e menos bem remuneradas. A austeridade moral dos germânicos e austríacos pode aceitar fardos sociais pesados com base na herança familiar mas isso não vai ser sempre assim e a coisa vai estourar mais cedo do que mais tarde.

quinta-feira, junho 11, 2015

O sociopata cheio de "connects".

O discurso de Cavaco Silva no 10 de junho é um lamentável repolho de equívocos que oscilam entre o elogio ao governo e a constatação de coisas que não existem. O líder daqueles que acusaram os portugueses de viverem acima das suas possibilidades, com salários dos mais baixos da Europa, enquanto os seus amigos pessoais (chamemos-lhes contactos) desbaratavam instituições bancárias, vem agora ditar objetivos económicos que nada respeitam aos cidadãos. A coesão social, as desigualdades económicas (que aumentaram nos últimos 4 anos), o equilíbrio no investimento e desenvolvimento regional (estamos hoje ainda mais centrados em Lisboa) e a remuneração justa pelo trabalho, ao nível europeu, deveriam ser os principais objetivos e não a cartilha de Angela Merkel em busca de números perdidos ignorando a pobreza que provoca a sua procura.
Em Lamego, no Douro, onde a pobreza ainda mata e qualquer alemão ficaria enojado com as condições de vida de muitas gentes nas aldeias, Cavaco vem-nos falar de inovação (obrigado Mariano Gago) e empreendedorismo depois de termos destruído milhares de empresas. Toda a política económica deste governo se suporta na compra de dívida pelo BCE. Toda! O resto é um rasto de destruição que só um sociopata não consegue ver. É importante lembrar que o crescimento não chega a metade da queda provocada pelas medidas de austeridade. E que o sucesso seria apenas se o fim das medidas fosse possível. Cavaco quer sucesso económico mas não necessariamente para os cidadãos. É o que se interpreta do seu discurso. É um presidente que se aproxima mais dos portugueses quando desmaia do que quando fala.

quinta-feira, março 19, 2015

Não sei se existe, mas se não existe passou a existir.

 
"Como funciona a lista VIP de contribuintes" no Económico.
 
"A gravação que trama o fisco" na Visão.
 
"Passos Coelho afirma que o Governo não sabia de nada" no PÚBLICO
 
Como tem sido habitual nesta governação, tudo o que se vai sabendo e descobrindo sobre as práticas imorais dos membros do governo é justificado com o esquecimento, desconhecimento ou até com a reinterpretação das palavras ditas. Em caso de pânico nega. Nega até ao fim. Se descoberto diz que não sabias. Em última análise pede desculpa e continua como se nada tivesse acontecido...
Em relação à tal lista VIP de contribuintes o mais cómico é que provavelmente não existe mesmo. Não porque não houvesse vontade ou mesmo o desejo de que existisse, até porque foi imaginada e por isso mesmo desejada. Mas o facto é que a lista e o controlo informático que lhe está associado simplesmente não precisam de existir para funcionar. A melhor vigilância é aquela que nem se sabe se existe. "Olha que o Nosso Senhor está sempre a ver!"
O objetivo da lista VIP de contribuintes da Autoridade Tributária é impor o sigilo fiscal mais a uns do que a outros, ou seja, ameaçar os funcionários das finanças, deixando claro que quem andar a bisbilhotar o histórico fiscal de certas figuras importantes está à pega. Para o resto da população estão mais à vontade.
Na verdade a simples ameaça pública de que tal lista existe desmotiva todo e qualquer funcionário da bisbilhotice fiscal aos cidadãos mais importantes de Portugal (sim, isso existe para a maioria dos portugueses). Os mesmos cidadãos que nós queríamos bisbilhotar, precisamente porque também têm mais a esconder. Não é necessário acrescentar que há interesses político/partidários envolvidos. Há sempre.
A esperteza do governo, aliada à sua incapacidade de implementar seja que sistema for que não implique aumento de impostos ou reduções remuneratórias, é perfeitamente possível que tal brilhantismo na proteção do sigilo fiscal nunca tenha saído do reino da ameaça. Mas é suficiente para a asneira estar feita.
É a imposição da nova regra "Olha para o que eu digo e ai de ti se olhas para o que eu faço!". Mas no actual estado de coisas são muito poucos os que entendem o que é a lista VIP (a maioria acredita provavelmente que diz respeito a descontos do fisco) e ainda menos os que discordam da sua existência, mesmo sem saberem que critérios presidiram à sua constituição ou sequer quem lá está.
Estão na moda o estado policial e a opacidade do estado. Á moda antiga como gostam os portugueses.

 

sábado, janeiro 31, 2015

Processo Educativo, a educação é um modo de fazer e não um resultado.

 

"The stick which drips paint is a toot which acknowledges the nature of the fluidity of paint. Like any other tool it is still one that controls and transforms matter. But unlike the brush it is in far greater sympathy with matter because it acknowledges the inherent tendencies and properties of that matter."

Robert Morris, 1968

Robert Morris, escreveu em 1968 um pequeno ensaio que viria a cunhar o termo "Process Art" para um movimento que mais não foi do que um princípio simples de entender a obra de arte como um processo ao contrário de um objeto ou um resultado. Para o efeito Morris realçou o trabalho de Pollock e como os materiais utilizados funcionam uns em articulação com os outros e no estrito respeito pela sua natureza. Assim, para Morris, o "pau" que Pollock utiliza para pingar a tinta sobre a tela está em harmonia com a fluidez da tinta mais do que o tradicional pincel que a disciplina. O "fazer" é a obra e não apenas do ponto de vista performativo. As formas de fazer emergem nos materiais e a sua manipulação é ritual estático. Ao despromover o objeto de arte em relação ao processo que o faz existir Morris está a fazer a mais sincera afirmação. Não são os resultados que nos movem, são os processos.
A arte de Robert Morris, como a de Pollock, destaca-se pela materialidade e profundidade dos modos de fazer que implica. Estão lá os materiais de uma forma tão palpável que os sentimos intimamente ligados ao prazer que produz a sua manipulação. São trabalhos que produzem em nós o desejo de inventar novas soluções e processos artísticos. Meter as mãos à obra. Morris realça no seu trabalho e nos seus ensaios algo que os artistas sabem há muito. Mesmo quando o objecto de arte se quer destacar do seu próprio processo e se afirma apenas pelo produto final, por vezes quase sobre-humano, para o artista o processo é muitas vezes um ritual quase mágico e os ateliers autênticos santuários do fazer. Há etapas, procedimentos, sons, espaços e estados de alma que constituem um processo nem sempre visível na obra mas fundamental à sua construção.
Nas escolas é igualmente importante valorizar os processos. Numa época em que vivemos rodeados de números e resultados e em que os meios são condicionados pelas finalidades projetadas, a escola deve separar-se dessa loucura insana e afirmar-se como um lugar de processos, de caminhos, e não de metas. Claro que aqui a semântica é importante. O que queremos dizer com umas palavras podemos dizer com outras. Por isso é importante que fique claro o seu significado. Os indicadores, os resultados, são importantes na educação. Mas são-no apenas na medida em que podem ensinar-nos algo sobre o processo.
É fácil manipular os resultados. O mediatismo educativo, a popularidade de rankings e gráficos que vivemos hoje, promove a visibilidade de apenas uns poucos indicadores ou resultados. Facilmente as políticas educativas populistas e centradas nos resultados se deixam levar pela simplificação dos processos e pela economia de meios para alterar os números naqueles indicadores. Por isso os rankings matam as escolas. Sobretudo algumas escolas que se deixam escravizar pelos resultados dos exames e que cedem à tentação de manipular os seus resultados, sacrificando o processo educativo em favor da ilusão criada por uma mão cheia de notas atingidas em três ou quatro provas. O treino para os exames é isso mesmo, um treino. Dificilmente se pode confundir com um processo educativo. Um processo educativo centrado no aluno e em aprendizagens significativas permite outro tipo de resultados, menos mensuráveis no imediato. Porque é centrado nas experiências dos alunos, de cada aluno, e está planeado de modo a produzir conhecimento e felicidade. A escola é um espaço de felicidade e de aprendizagem para a felicidade. Mas a felicidade dos alunos, o gosto por tarefas que promovem o seu desenvolvimento humano e intelectual, o seu empenho e prazer por frequentar a escola, não é reproduzido nos rankings dos resultados imediatos.
A implementação, nas escolas de artes, de modelos de ensino/aprendizagem baseados em projetos e na resolução criativa de problemas pode e deve ser um laboratório para a aplicação destes processos educativos noutros contextos. Uma escola que investe no caminho e não na meta e que deixa que cada aluno possa contribuir também para metas diferentes. Estes modelos implicam uma escola humana, reflexiva e que funciona como coletivo. Uma escola em permanente transformação, produzida por todos os intervenientes enquanto o espaço social que ocupa se vai transformando. Uma escola que rejeita o facilitismo dos resultados imediatos e que opta por viver com entusiasmo o seu dia-a-dia. Esta escola, atelier do aluno, é a escola do "fazer". Não a escola técnica mas a escola do "fazer" diário. Um "fazer" que ensina, com consequências, com espaço de desenvolvimento e crescimento e com oportunidades de correção e recuo. Um "fazer" em conjunto e em partilha. Um "fazer" que promove o conhecimento. A escola não é mais um horário em que os sapientes fazem a transmissão do saber a indivíduos a quem pouco mais se pede do que provar, por escrito, que ouviram a lição. É um espaço de trabalho onde acontece um processo, multidimensional, de desenvolvimento de seres humanos. Como Robert Morris escrevia sobre Pollock e sobre a harmonia entre as ferramentas, os materiais e os suportes numa ação coerente, na escola os meios, os modos de fazer a educação e os alunos devem estar em harmonia.
Se um projecto visa um resultado, um processo, um processo educativo, visa uma transformação eterna, uma ação perpétua. Um aluno preparado para essa transformação e desenvolvimento permanentes será um cidadão que faz avançar o mundo e não simplesmente um que se usa dele para um qualquer objetivo.
 
Texto para a revista Dinâmicas 3 do Curso de Design de Produto da Escola Artística de Soares dos Reis, publicada em janeiro de 2015.
Consulta a revista neste link.

quinta-feira, janeiro 08, 2015

O Profeta

 
Nenhum profeta tem medo da imagem. Porque a imagem não é verdadeira nem falsa. É imagem.
 
Para o Charlie Hebdo.
Nous Sommes Charlie

Je Suis Charlie

 

Passei a minha vida toda a desenhar bonecos. Nunca o fiz profissionalmente porque a vida me conduziu noutros sentidos mas sempre percebi o poder dos bonecos desenhados. Tenho uma profunda admiração por todos aqueles que fazem do cartoon e desenho satírico a sua vida. Sobretudo aqueles, como os franceses do Charlie Hebdo, que fazem do desenho um campo de batalha pela liberdade de expressão, pela liberdade do humor.

A profissão de jornalista anda arrastada pelo chão por estes pragmáticos do lucro que promovem o trabalho escravo, sem condições, sem estabilidade e sem segurança. Por algum motivo é tão fácil raptar ou matar um jornalista. Os terroristas e mesmo as polícias e os governos de países civilizados têm zero de respeito por estes profissionais. Sobretudo o poder político que os manipula para proveito próprio. Não há liberdade verdadeiramente.

Os artistas também, por outro lado, são desacreditados e espalmados pela lógica do gosto único, surpreendentemente um princípio do marketing neoliberal. Ou alinham em lógicas parvas de mercado ou desaparecem. De modo algum devem provocar o "establishment". No Portugal democrático foram censurados músicos e artistas plásticos que usaram os símbolos da nação. Censura aclamada por elites conservadoras que hoje choram lágrimas de crocodilo. Ai de quem brinque com a fé dominante e com os seus líderes. Quando um cartonista brincou com um Papa foi um escândalo, quando era suposto ser apenas uma brincadeira crítica e inteligente. Os nossos censores não pegam em armas porque são uns piegas medrosos. Não se aguentam à porrada. Matam de outras maneiras.

Não podemos abdicar da nossa liberdade de desenhar o que quer que seja, de dizer o que quer que seja. Os cartonistas do Charlie Hebdo eram uns brincalhões, nunca fizeram mal a ninguém e ajudaram muitos a ver as coisas de outro modo, por outro lado, e dessa forma ajudaram o mundo a compreender-se um pouco melhor.

Estou com eles. Não vou ter medo de desenhar. Recuso-me a ter medo de desenhar porque, entre outras coisas, houve quem tivesse morrido a defender esse direito.

Obrigado Charlie Hebdo. Obrigado Wolinski, Charb, Tignous e Cabu. Vocês e todos os que defendem a liberdade de expressão são os únicos profetas.

No meu pinboard "Illustration" no Pinterest partilhei alguns desenhos destes artistas.