quarta-feira, abril 30, 2014

Conhece alguém que precise do First Certificate para alguma coisa?

O teste de Cambridge foi hoje às escolas mas...

Eu percebo que queiram aumentar a qualidade do ensino de inglês. Percebo, mas levantam-se algumas questões. Este certificado tem uma validade muito baixa ou mesmo nula. Não serve para estudar no Reino Unido ao nível do Ensino Superior, por exemplo. Não se percebe o investimento neste grau se ele tem pouca ou nenhuma utilidade prática, sobretudo num momento em que a escolaridade obrigatória é o 12º ano.

Se fosse um exame em que a classificação final resulta num nível de proficiência em Inglês? Mas não é. Ou se passa ou não. E o First Certificate não serve na prática para absolutamente nada. Servirá para emigrar, talvez... Nem isso.

Por outro lado não me parece que a certificação em Inglês que este grau atribui, para o habitual empregador que exige menos do que a escolaridade obrigatória a quem contrata, seja assim tão determinante. Dificilmente o First Certificate fará diferença na contratação de alguém com o 9º ano. Sejamos sérios.

Este exame é um negócio. Pura e simplesmente um negócio. Com a conivência de uma Confederação de Associações de Pais que parece pouco preocupada com a qualidade de ensino e mais preocupada com diplomas e outras aparências. Parece que defende sobretudo os interesses dos alunos provenientes de famílias com alguns recursos financeiros, quer seja para pagar o exame quer seja para dar uso ao seu Inglês.

O objetivo será fazer a mesma coisa no final do 11° ano. Mas em que medida faz sentido associar a aprendizagem de uma língua a uma certificação por uma entidade privada? Não faria mais sentido certificar o exame nacional de Inglês?

Esta má ideia é o exemplo das não medidas que o MEC gosta de tomar. Melhorar alguma coisa nas escolas? Naaaaa... Criar um exame pago para um certificado inútil pago a uma entidade privada? Grande ideia! E depois os pouco produtivos somos nós...

sábado, abril 19, 2014

O sucesso de Nuno Crato.

(aviso: pode conter teorias da conspiração ou realidades inconvenientes)
Fonte: PÚBLICO e DGEEC.

O jornal Público noticia hoje, com dados do MEC, que o número de estudantes que, à saída do ensino secundário, declara querer prosseguir a sua formação entrando no ensino superior não tem parado de diminuir desde 2008. Avança ainda que as razões económicas são as mais apontadas para não querer continuar a estudar.

Conclui-se daqui que as medidas do MEC e de Nuno Crato estão a resultar em pleno. Reprodução social garantida pela seleção económica. Menos cidadãos habilitados a uma formação superior. O dinheiro e a formação dos pais como decisivos no futuro do aluno. A meritocracia aparente tinha de dar lugar a um sistema mais simples e garantido. Tem quem paga.

Se tornarmos o acesso ao ensino superior menos atrativo economicamente, ou pura e simplesmente impossível, dentro de pouco tempo voltaremos a ouvir frequentemente a frase "não tive dinheiro para estudar", um queixume não tão velho quanto isso. Com resultados muito maus para o país e aparentemente bons para a elite saudosista do fascismo (olha o Durão).

A crise económica, causada pela geração dos 45 para cima, também é fruto da sua falta de formação, não só técnica mas sobretudo ética e, ao contrário do que escreve a elite conservadora, nós temos andado para a frente em termos de qualidade na educação nos últimos anos. Estamos melhor hoje, todos os dados o comprovam. Querem a regressão porquê?

A mudança do projeto económico do país, assente em salários baixos e produção barata para investimento industrial estrangeiro, tinha de ser acompanhada pela criação de uma força operária barata, com pouca formação, essencialmente técnica, profissional e muito específica. Quanto menor a formação e mais específica mais dependente é o trabalhador do empregador, menor o salário, menores os custos de produção. Por isso se criaram os cursos vocacionais. Por isso andaram responsáveis alemães, juntamente com responsáveis do MEC, a apresentar este tipo de cursos. São os investidores estrangeiros os mais interessados na criação dessa força operária, pois é a garantia da diminuição dos custos do investimento e da maximização dos lucros.

Neste projeto económico o país encolhe (como tem sido defendido e exigido por tantos economistas inconscientes), reduz-se a arrecadação por via dos impostos, sejam sobre o consumo ou sobre os rendimentos, e torna-se impossível manter um Estado com um grau de proteção social ao cidadão suficiente. O governo desce os impostos sobre as empresas, em nome do crescimento, e os impostos sobre os cidadãos, apesar de mantidos elevados, não chegam para as encomendas fruto dos baixos rendimentos e fraco consumo.

Aumentam as diferenças entre ricos e pobres e gera-se uma aparência de riqueza, como em todas as ditaduras, investindo na capital da nação, escondendo-se os pobres debaixo do tapete. Seremos um caso de sucesso, tipo Brasil, mas um sucesso que os portugueses nem cheiram. Um país rico com cidadãos pobres. A invenção do neo-liberalismo.

O projeto para Portugal está desenhado. O papel do Ministério da Educação é um dos mais importantes e tem sido cumprido à risca. Sempre contando com o apoio involuntário dos portugueses que gostam pouco dos seus jovens e se esforçam demasiado (e de forma até infantil) para provar que são melhores do que os seus próprios filhos. É que vencer a ignorância e procurar o conhecimento, à escala de uma nação, é um obstáculo bem mais difícil de ultrapassar do que se imagina. Não se chega lá castigando os mais novos.

 

Se defende justiça e igualdade no acesso ao ensino superior assine está petição.

 

terça-feira, abril 15, 2014

A "Flip Art" ou o neo-liberalismo no mercado da arte.

"Auto-retrato anónimo" (2014) técnica mista, autor anónimo.

Dan Rees, à esquerda, na inauguração de uma sua exposição na Fundação Goss-Michael em Dalas.

Chamam-lhe "Flip Art" (ler este artigo no New York Times) e é, na verdade, a aplicação das práticas especulativas dos mercados de capitais à compra e venda de obras de arte.

Se, por um lado, para os mercados artísticos emergentes é pouco atraente a especulação com obras de artistas muito importantes. As obras são raras, correm mais riscos de falsificação e mais risco financeiro por cada obra. O mercado da arte mais animado e borbulhante prefere comprar e vender muito depressa, vender antes de comprar, fazer muito barulho.

Por outro lado o processo de legitimação artística tradicional é demasiado demorado e implica dar tempo aos artistas para que a sua obra amadureça e seja devidamente digerida pelo olhar da crítica e do público. É um processo relativamente democrático que pouco interessa aos investidores que poucos riscos querem correr. Não lhes interessa a arte mas as oportunidades de realização de lucro rápido.

As vendas são organizadas em leilões porque, dizem, os investidores acreditam que o artista que está representado num leilão tem à partida um determinado grau de qualidade. Não é necessariamente verdade.

Para isto são selecionados muitas vezes novos artistas de qualidade muito duvidosa e com um trabalho suficientemente ambíguo para que o discurso críptico de críticos, previamente comprados, deixe investidores à beira do orgasmo.

Os artistas escolhidos, os que estão no centro dos interesses, inundam o mercado com centenas de obras e criam algum "hype" com a ajuda de galeristas inteligentes e cheios de contactos. A colocação de uma obra numa coleção importante pode desencadear um furiosa torrente de vendas e compras completamente às cegas.

Como podem ver na esmagadora maioria deste lote extraordinário da casa de leilões Philips a qualidade das obras é muito duvidosa.

Lá está a nossa Joaninha com os pijamas de renda para bichos de louça, mas a vender pouco quando comparada com algumas pérolas como Parker Ito (o seu site é do mais autêntico Glitch Art ou simplesmente mau html, as obras nem comento), Dan Rees, na fotografia acima, Lucien Smith, ou o mesmo o pseudo-clone de Basquiat, Oscar Murillo.

Aliás a Philips, detida na totalidade por uma empresa russa de retalho de luxo, deixa evidente no seu site o motivo pelo qual vende e porque tem sucesso. Não são os artistas nem as obras, senão leiam:

"To win business, Phillips combined business acumen with a flair for showmanship, introducing new ways to promote his sales such as elaborate evening receptions before auctions - an essential part of the auction business today. Phillips quickly gained the confidence of British society and remains the only auction house ever to have held a sale inside Buckingham Palace."

É claro não é?

Se mais tarde o mercado topa a real qualidade das obras e estas deixam de valer o que quer que seja, pouco interessa para aqueles que, na feira de arte e no leilão, fizeram milhões com telas manchadas por materiais de bricolage baratos.

É, já se sabia, muito fácil criar fenómenos artísticos da noite para o dia, com campanhas mais mediáticas, com ordens de compra falsas e sempre com muitos telefonemas à mistura. É como largar um mentos numa bacia de coca-cola. A magia acontece. Pouco interessa a qualidade da obra. Estas obras, na sua maioria, nem penduradas serão depois de terminarem as exposições. Viajam empacotadas de depósito de galeria em depósito de galeria. Trocam de mãos constantemente. Interessa apenas o valor financeiro realizado na troca. Como em tudo. A substância passou a ser o dinheiro, tudo o resto é subproduto. Encorajador.

O meu pai bem me falou da importância de um grande mercado e do sucesso da fábrica de pregos de duas cabeças. Hoje,com a institucionalização de compra e venda de perspetivas de ganhos em vez de produtos reais, nem fábrica precisa de existir, apenas a crença de que existe uma fábrica e um produto. Só isso já dá para especular e ganhar dinheiro.

 

sábado, abril 12, 2014

A música oficial do Mundial de Futebol é um insulto ao povo brasileiro.

A música oficial da FIFA para o campeonato do mundo de futebol é um equívoco lamentável. Demonstra bem como a FIFA é composta por ignorantes e como os estereótipos americanos para a denominada (por eles) "Latin America" tomaram conta do discurso internacional sobre as culturas. 
Será que aceitamos todos, como perfeitos idiotas, estes estereótipos que nos são impostos? 
Pitbull, um rapper cubano, brinda-nos com uma música sem personalidade, sem identidade, para um Mundial de Futebol no Brasil, um país com um dos mais ricos patrimónios musicais do mundo? 
Um Rapper? Cubano? A cantar, a determinado momento espanholês... só para agravar a confusão que se faz com as duas línguas. Não chega dizer "Obrigado" com sotaque da Florida.
Uma cantora brasileira lá faz o serviço ao politicamente correcto aos 2'40", mais uns samples de samba no início, numa música que é má, muito má, até no título "We Are One, Ole Ola"
Porquê "Olé"? Estamos em Espanha? Na Argentina? No México?
Porquê a Jennifer Lopez? O que está ela a fazer nesta música?
Qualquer duo sertanejo faria muito melhor! Espero bem que o povo brasileiro rejeite de modo exemplar este insulto à sua cultura musical. Tornaram um evento festivo numa enorme chapada na cara de um povo. Uma chapada com a luva suja da globalização. Os desrespeito pela cultura e identidade dos povos está institucionalizado e a FIFA é um bom exemplo.
A música é um lixo, a FIFA é um lixo, esta globalização da estupidez norte-americana é um lixo!