sábado, junho 29, 2013

Pobres, ignorantes e covardes?

No dia 27 de junho, dia de protesto e greve geral, um grupo de manifestantes que desfilava em direção à ponte 25 de abril foi cercado pela polícia e identificado um a um como se fossem criminosos. Alega a polícia que o protesto não estava autorizado e punha em risco a segurança rodoviária. Vão todos a tribunal. O país acha normal.

Não há pachorra para o clima hipócrita, pseudo-legalista, de resignação e passividade que se está a instalar neste país. Fruto da proclamação da subserviência como prática obrigatória de cidadania.

Ele é a greve que não pode incomodar, a manifestação que não pode interromper o trânsito, o insuportável Presidente da República a quem ninguém pode chamar gatuno (ele que nem teve nada a ver com o BPN), etc, etc...

Já a Constituição, pelo contrário, é um texto sujeito a interpretações... e não o cumprir é um ato heróico e justificável num momento de emergência económica, blá, blá, blá, blá, blá, blaaaaaaaaaaaaaargh!

A legalidade das manifestações é ditada pelo povo que vê ilegalidades maiores serem votadas como lei sem pudor e sem castigo. Não é, nem pode ser, ditada pelas regras burocráticas do Estado. A emergência que estes senhores justificam para nos retirarem direitos é a mesma que justifica que se interrompa uma estrada ou se ocupe uma praça. Aqui, na Grécia, na Turquia ou no Brasil. A ordem pública pode esperar que nos devolvam o país e a dignidade.

Aceitar ser tratado e conduzido como gado é que não!

Em Portugal aceita-se esta espécie de democraciazinha de brincadeira que uns senhores que nunca foram democratas nos vendem nas TVs. Porque na verdade nunca acreditaram na liberdade do povo. Nunca acharam a liberdade do povo importante para o desenvolvimento económico. São liberarais porque querem a liberdade toda para si e para os seus negócios milionários. É ouvir a gravação dos banqueiros irlandeses que conspiram às gargalhadas para roubar os contribuintes do seu país, porque os de cá fazem o mesmo tipo de coisas. É dessa liberdade que gostam estes liberais.

Os opinistas dos jornais e da televisão alinham-se de pingo de baba no canto da boca a promover a ordem e a legalidade, provavelmente no intervalo de uma ação de campanha eleitoral de um Menezes ou um Seara. Ambos a marimbar-se para a lei e cheios de vontade de mamar no favorzinho que a Assembleia da República lhes fez.

Os Turcos, os Gregos, os Brasileiros, os Franceses quando querem vão buscar. Partem tudo. Vergam políticos e políticas.

Nós, esta cambada lusa de covardes na qual me incluo, baixamos a cabeça e pedimos desculpa pela imaginação do insulto. Somos uns masoquistas pobres, ignorantes e covardes. Uns educadinhos ajudantes de sacristia à espera que a benção do senhor pároco nos invada o reto enquanto lhe agradecemos as graças.

É isso que somos? Será mesmo só isso que somos? De que esperamos para fazer uma nova revolução?

Para quem quiser ouvir a gravação original dos banqueiros Irlandeses a conspiar à gargalhada clique aqui.

 

sábado, junho 22, 2013

Os nossos sonhos não têm cor nem se encaixam na tua folha de cálculo.

A Direção de Serviços da Região Norte do Ministério da Educação convocou recentemente as escolas, públicas e privadas, que oferecem cursos profissionais para discutir a rede escolar.

Um senhor, ex vereador do CDS/PP da Câmara Municipal de Viana do Castelo, tristemente celebre por defender as touradas na cidade, nomeado "Delegado" e representante do Ministério da Educação (M.E.), fala na importância de "prosseguir o esforço nacional da diminuição da despesa". Confirmo a data. Confirmo o local. Aquele discurso não é para ali, para aquele público. Mas ainda assim acontece. Estou numa ação de propaganda.

Misturam-se informações sobre Jardins Infantis, Escolas do 1º ciclo e do 2º e 3º ciclos, números de turmas e números de alunos por turmas. Parece que para o M.E. as turmas se fazem em múltiplos de 30 e trocos. Significa isto que se uma escola, com espaço e professores para 10 turmas do 7º ano, tiver 280 candidatos pode abrir 9 turmas e manda 10 alunos para a escola do lado, por falta de vagas, em vez de abrir 10 turmas com 28 alunos. Esta é a norma. Não está prescrita nenhuma exceção apesar de depois ser a balda e ninguém controlar nada. Autonomia clandestina.

A norma está mal, logo se vê. É como um pilar que de tão rígido se torna frágil e quebradiço, incapaz de cumprir a sua função de suporte. "A norma é para cumprir" diz o tal senhor. Pode ainda acontecer a escola ter só autorização para abrir 8 turmas e o que sobrar vai para o colégio com contrato de associação mas sobre isto não se falou.

Apesar de tudo o pior ainda estava para vir. Apresentam-se as prioridades na abertura de cursos profissionais. Atenção que a rede pública não foi separada da oferta privada. Não há uma estratégia específica para a rede pública. Na verdade são todos considerados "públicos" uma vez que a oferta privada de cursos profissionais depende exclusivamente do financiamento europeu que só chega quando a administração pública ratifica a abertura de um curso. Há algo de perverso aqui. Uma escola não pode justificar o mérito de uma oferta pela empregabilidade dos alunos, pela procura ou pela qualidade da formação e projeto educativo. A abertura do curso é uma decisão política. Sempre.

A administração decide que cursos quer para o futuro e decide com cores. Não há uma planificação da rede, lógica de continuidade, diversificação e complementarização da oferta, não é tida em conta a especialização das escolas e dos recursos humanos e materiais ou sequer pareceres de diversas entidades empresariais, universidades ou outros organismos. Mais grave ainda, existe uma, pouco pacífica, disputa por alunos entre as escolas e o IEFP que promove a sua própria oferta com recurso a estratégias competitivas muito eficazes.

Para o M.E. há os cursos a verde, os amarelos, os "castanhos" e os vermelhos. Curioso o "laranja" até aos laranjas parece hoje acastanhado.

Aplica-se a técnica da cultura intensiva, promovem-se áreas sem refletir sobre os efeitos nefastos da medida caso, por azar, as escolas a seguissem.

E quais são as áreas que promove o Ministério da Educação?

Suportado num estudo nunca apresentado, o senhor delegado apresenta, a "verde" para o Grande Porto: Comércio, Metalurgia e metalomecânica, Indústrias Alimentares, Materiais: madeiras, cortiça, plástico e outros, Construção civil e engenharia civil e Serviços de Transporte.

Quem ler jornais e acompanhar a economia percebe rapidamente que somos convidados a formar para áreas que hoje oferecem pouco emprego e que estão em crise. Outras áreas de desenvolvimento que se têm revelado de muito sucesso como o Design e a Criatividade ou a Multimédia e as Tecnologias de Informação, numa região marcada pelos serviços e pela presença, ainda que cada vez menor, de sedes de empresas e centros de decisão, aparecem na zona vermelha. O IEFP que se rege por resultados práticos de empregabilidade à saída das formações, por exemplo, coloca estas áreas vermelhas no topo das prioridades. São outros critérios.

Por outro lado está proibida, por qualquer motivo, a inscrição de maiores de 20 anos nestes cursos. Sabendo que a oferta de Cursos de Educação e Formação de Adultos foi drasticamente reduzida eu pergunto-me qual o objetivo real destas medidas em termos de política educativa e qualificação para o trabalho.

Na realidade a oferta tem de ser, necessariamente, diversificada e obedecer a critérios estratégicos económicos mas também culturais e ter sempre em conta a dignidade e a liberdade das pessoas. Não há qualquer necessidade de usar as cores e oferecer a formação profissional aos repelões sem ter sequer respeito pelas vocações e sonhos dos formandos. Mas esta é a questão essencial desta política.

Ao organizar a oferta formativa desta forma a administração garante que a população jovem que foi identificada e carimbada pelo sistema público de educação como menos bem sucedida vai confrontar-se com oportunidades que os disciplinam e organizam consoante necessidades económicas. Perdem o direito a querer ser o que quer que sejam e são obrigados a ser uma daquelas coisas. E essa obrigação produz efeitos sociais interessantes. Trabalhadores em número abundante em áreas tradicionalmente com custo de trabalho baixo assim como competências profissionais simples. Não há procura para esta mão de obra hoje. Mas o governo acha que haverá amanhã e está a trabalhar nesse sentido. Numa sociedade partida, com uma pequena e insignificante classe média, uma abundante e barata classe trabalhadora e uma pequena e abastada elite com direitos adquiridos dados pelas eternas gerações de senhores doutores premiados pela meritocracia que melhor convir.

É esta a natureza das nações ricas do séc.XXI, com um sério deficit democrático e com uma população escrava de objetivos económicos de larga escala para acumulação do capital num grupo cada vez mais restrito.

Este tipo de políticas são motivo de preocupação e devemos refletir sobre elas.

 

quinta-feira, junho 20, 2013

Sr. Doutor Juiz, posso levar um insulto?

Este texto vem no contexto da notícia «Jornalista condenado a multa e indemnização por chamar "idiota" a ex-secretário de Estado» do jornal Público de 19 de junho de 2013.

Atenção: este texto tem linguagem menos própria para o consumo dos mais pudicos.
Acho muito complicado e perigoso que em Portugal se condene alguém por chamar "idiota" a um governante. Em primeiro lugar porque está em causa a liberdade de expressão e em segundo porque pode, em última análise, impedir que alguém diga a verdade.
Bem sei que o acórdão condena o arguido sobretudo por ter chamado "idiota" a um secretário de estado sem ter apresentado justificação para o efeito. Alguns argumentarão que ter sido secretário de estado de Sócrates é motivo bastante, por exemplo. São livres de pensar isso. Mas seria com certeza, como noutros casos se fez, muito fácil fazer prova da idiotice deste ou daquele secretário de estado em tribunal, bastando para o efeito recorrer à leitura de declarações públicas ou ao enunciado das medidas que se vão tomando nas secretarias de estado.
No caso em apreço o jornalista escreveu que o inatacável funcionário do estado "é o mais idiota dos políticos que conheço e foi durante este último ano e meio secretário de Estado da Agricultura e Florestas" e continua dizendo "um dia será ministro das Finanças, ou da Educação, ou da Justiça de um qualquer governo, a confiar no aparelho partidário do Partido Socialista, onde parece que toda a gente boa foi de férias e só ficaram as galinhas".
As palavras são fodidas (olha, usei uma delas agora mesmo). Se o jornalista em apreço tivesse o talento para desenhar um galinheiro com o símbolo do Partido Socialista pendurado e um grupo de galinhas a bicar no chão sendo uma delas a carinha laroca do dito inominável e inatacável secretário de estado, o senhor doutor juiz nunca o teria condenado. Apesar de sabermos todos que as galinhas são um bicho que só não é idiota quando está no tacho.
Mas os símbolos são do caraças e a semiótica é fodida. Se em vez de galinhas fossem porcos numa pocilga já era diferente e o juiz deste caso, admirador confesso, presumo, dos brilhantes trabalhos na área da liberdade de expressão realizados pela justiça iraniana ou chinesa, já iria franzir o sobrolho e pensava "mil... mil e trezentos, devem bastar". Já, por último, se trocássemos os porcos por cavalos talvez o dito ex-secretário de estado, cujo nome é impronunciável e cuja dignidade está acima de qualquer suspeita, decidisse em vez de um processo presentear o jornalista em causa com um belo cabaz de Natal. É a natureza dos signos.
O que, com certeza, o senhor doutor juiz, se esqueceu de estudar foi que a palavra "idiota" está ligada ao exercício da política desde a Grécia Antiga ou antes ao não exercício – a palavra vem da raíz iδio que significa “em si mesmo” alguém que se exclui e não participa e que por isso rejeita a política (como tão bem explica Papandreou na sua comunicação no TED – ver aos 12m34s).
Neste caso particular talvez o jornalista não se estivesse a referir à falta de exercício e participação política do dito cujo, mas antes a um exercício que, em si mesmo, exclui os outros, exclui a comunidade para a qual trabalha. Por estar distante daqueles a quem se destina é idiota por princípio. Exatamente aquilo que se passa hoje na nossa governação “idiota”.
Mas ser "idiota" toca a todos. Ser o "mais idiota" toca a quase todos, uma vez ou outra. Incluindo-me a mim na galeria dos mais idiotas muitas vezes. É diferente de chamar "gatuno" que implica roubar, ou "cabrão" que implica um exercício específico da sua senhora ou, no máximo dos máximos, "filho da puta" que põe em causa a moral da proveniência dos rendimentos da mãe. "Idiota" em Portugal significa um ignorante ou vaidoso. Dificilmente encontraremos alguém que não pense o mesmo da maioria dos políticos. Estarão proibidos de o dizer sem o justificar?
Os políticos, sobretudo os que governam, estão a jeito. Não são cidadãos comuns. Legislam, afetam a vida das pessoas de forma determinante e andam com seguranças não identificados que batem e dão ordem de prisão. Nas revoluções perdem as cabeças. Literalmente. O exercício de um cargo político obriga a aceitar que nos chamem idiotas sem qualquer justificação. Faz parte. É diferente de dizer que roubamos. É só dizer que fomos maus. Dizer que se é "o mais idiota" é só dizer que fomos os piores.
Não quero um país em que não se possa chamar "idiota" livremente a um governante. Sobretudo sendo este um país de governantes Idiotas, Ignorantes, Vaidosos, Mentirosos e que todos os dias vão governando a favor dos seus interesses sem qualquer tipo de pudor nem compaixão pelos seus cidadãos. Será que é proibido mandá-los "à merda"?
Quanto custa senhor doutor juiz?
Neste mercado de insultos que se tornaram alguns tribunais portugueses, na inútil e impossível defesa da dignidade dos que nos governam, apetece-me entrar e dizer: Vou levar três "idiotas", uma dúzia de "gatunos" e apenas um "filho da puta"*, mas só porque não me pagam agora em junho. Venho cá em novembro e levo mais...
Tenham juiz(o).
* atenção que estou só a brincar, não me pagam o suficiente para liberdades dessas...

quarta-feira, junho 19, 2013

Uma questão de empatia...

O relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, intitulado "duas faces da saúde", revela aquilo que é já uma doença clássica nacional. A total e absoluta falta de empatia da classe política, dos governantes em particular, relativamente aos graves problemas da população portuguesa.

Quem ouviu ontem o Ministro Poiares Maduro na TVI ficou com a ideia de que para este governante Portugal é um caso de sucesso. Como somos todos ignorantes ficamos a saber que não vai haver despedimentos na função pública, apenas "requalificações" e que a coligação está forte. Ora, na mesma altura o outro partido da coligação estava a realizar um congresso em que prometia o oposto do que o governo anuncia. A "requalificação" só se for na situação no trabalho para efeitos de IRS que será requalificado para "desempregado" pois os números de redução de efetivos na função pública prometidos à Troika ultrapassam em muito as reformas e os contratados que vão ser postos a andar. Finalmente todos os números relativos ao nível de vida dos portugueses estão no pior de sempre desde que temos liberdade mas Maduro acha que este é o caminho certo. Para Maduro este é o Portugal com que ele sempre sonhou, um em que ele é Ministro e que os outros se f****. O grau de irrealidade e de desplante na distorção dos factos chega a ser cómico.

Mas voltando ao relatório da OPSS. O que me chocou é que se concluiu que o acesso à saúde piorou, sobretudo para os mais pobres e para os idosos, a aquisição de medicamentos deixou, em muitos casos, de ser feita e que o governo ultrapassou em muitos milhões a poupança prevista ou aconselhada pela Troika para o sector. Ou seja, segundo Maduro, Gaspar ou Passos, estaremos no sentido certo e o Ministro da Saúde Paulo Macedo é, considerado por todos, o melhor do mundo. Tirando para os velhinhos e os pobrezinhos claro, mas o que é que esses interessam no grande esquema das coisas?

Lá na Europa e nos Bildenbergs, G20s e G8s ninguém quer saber. A vida é tratada ao quilo. Como foi tratada a vida dos cerca de mil cidadãos do Bangladesh que morreram soterrados ao lado dos nossos pólos cor-de-rosa da Benetton. Ninguém quer saber. Os números dos gráficos são grandes demais e a riqueza das nações, como é o exemplo dessa grande nação que é o Brasil, não representa os problemas sociais e as dificuldades da grande massa de pobres que não participa desse sucesso económico feito de polícia militar, balas e condomínios de luxo muito fechadinhos.

Conclusão. Há mais gente a deixar de ir aos médicos e a deixar de tomar os medicamentos, há mais suicídios, há mais fome e muito mais pobreza, mas os ministros são bons, são académicos competentes e a sua palavra é rainha. Portugal está bem, a Europa recomenda-se, no Brasil as pessoas que se calem porque a FIFA quer fazer uma festa e quer silêncio, tirando o ruído irritante das "caixirolas" oficiais. Na Turquia vai tudo a eito que os parques não são para as pessoas, são para os governos mostrarem quem manda. No G8 a Rússia defende um criminoso no poder na Síria porque lhe interessa vender umas armas (boa estratégia económica, o rating da Rússia ainda vai subir). A China agora é de todos os que lá vão molhar o pincel, na mão de obra barata, menos dos pobres chineses. Obama anda a espionar a malta toda, a culpa é do rapaz que o denunciou, e na América matam-se na rua todos os dias sem que se legisle contra as armas porque dão muito guito nos bolsos dos políticos republicanos que querem que se ensine o Adão e a Eva na escola primária em vez do Darwin (possa que ainda há pior que o Crato), etc e etc e etc... tenho de deixar de ler jornais e ver notícias. Começa a ser demasiado difícil.

 

segunda-feira, junho 17, 2013

Pela profissão e pela educação.

A luta dos professores, a nossa luta, é uma luta por melhores condições de trabalho. Por melhores remunerações. Contra a precariedade do trabalho docente. Por uma melhor e mais justa organização do nosso trabalho. É uma luta contra as regras que permitem ao governo descartar, como se faz com as fraldas, docentes efetivos com muitos anos de trabalho. É uma luta por melhores condições para todos os milhares de fantásticos professores que são essenciais ao sistema e que, apesar disso, todos os anos são chamados de contratados e estão impedidos de serem profissionais com estabilidade no emprego.

Todos estes motivos são legítimos. Ao contrário do que nos querem fazer crer é totalmente legítimo fazer greve por motivos estritamente ligados ao exercício da profissão. Todos o fazem. E quando não o fazem é porque chantagens ilegítimas os impedem de se manifestar. É um execício de liberdade e tem consequências. Tem de ter consequências para fazer sentido.

Mas há motivações acrescidas. Este Ministério da Educação já provou que pouco ou nada lhe interessa a qualidade da oferta educativa pública. A injustiça cometida sobre os alunos da Soares dos Reis é exemplo da falta de ética e valores de justiça nas suas decisões. E os professores sabem que o Ministro mente e que o que promete hoje amanhã desmente. Sabem também que cada vez mais apresentarão como inevitável um sistema em que empresas privadas organizam e enriquecem com o ensino público por via de concessões. A greve dos professores é um alerta de que a classe não vai admitir a privatização da escola pública. Não vai admitir a degradação progressiva da oferta pública para justificar esta privatização.

É isto tudo que está em causa, são muitos os motivos. Não se esqueçam que a greve vem depois de trapalhadas e desmentidos, de mega agrupamentos e de novos "programas" realizados contra os professores. Não há motivos para confiar na qualidade do trabalho e na veracidade da palavra do Ministro. A greve é apenas o corolário de uma má governação, sempre contra os portugueses.

Por outro lado a tarefa primeira dos professores é ensinar e só depois avaliar. Os professores ao fazer greve às vigilâncias estão, na prática, a fazer greve a uma tarefa menor da profissão que nem sequer a dignifica. Apenas se prejudica uma função administrativa do ensino. Não se prejudicam os alunos.

Os professores levam hoje a escola às costas. Contra tudo e contra todos. Cumprem todo o tipo de tarefas e fazem muitos sacrifícios. São os artífices de uma das mais significativas melhorias de resultados na Europa. Recuperaram uma sociedade marcada pelo analfabetismo e pelo abandono escolar. Têm poucos a defendê-los, na sua maioria alunos que diariamente testemunham o seu entusiasmo, competência e dedicação.

Os professores merecem mais respeito e estão de facto a dar uma lição de democracia aos seus alunos. Nunca nos devemos resignar às lógicas utilitaristas desta selvajaria liberal. Nunca nos devemos calar na defesa dos nossos direitos e liberdades.

No dia 27 de Junho, dia da greve geral, devemos estar lá todos, alunos, professores, pais, trabalhadores do público e do privado, juntos lado a lado por um país com identidade, por um país que respeita as pessoas, por uma Europa de todos e não só de alguns.

domingo, junho 16, 2013

O trabalho dos professores é ensinar os alunos. Verdade?

Nunca vi uma classe profissional ter de defender uma greve desta maneira. É inédito. Alguém sabe os motivos da greve dos controladores aéreos franceses? Não, pois não?

É sobre o "Céu Único Europeu". Primeiro pensei que fosse uma ideia do Papa Francisco, mas depois percebi que era um projeto que, na prática, retira a soberania dos ares aos países Europeus para a dar aos do costume. Só a Ryan Air é que disse que se deveria proibir a greve dos controladores. Cá em Portugal, com tanta gente, já em férias, apeada em aeroportos, ninguém quer saber. A greve é bem justa, já agora.

O que pergunto é:

Os alunos vão à escola para aprender. Verdade?

O trabalho dos professores é ensinar os alunos. Verdade?

Se nenhum aluno perdeu uma única aula com esta greve como pode sair prejudicado?

Se faço greve a uma vigilância, uma vez que não sou nem polícia, nem segurança, estarei a falhar no meu dever cívico e profissional aos meus alunos?

A Malta está qualificada é para dar aulas e apoiar alunos. As notas são um processo administrativo e os exames também.

Esta greve é, na verdade, aquela que menos prejudica os alunos!

Numa escola aprende-se e ninguém deixou de aprender este ano. O resto são tretas. E treteiros não faltam.