sexta-feira, fevereiro 08, 2013

A responsabilidade social e o seu significado

Hoje, por acaso, na procura do significado de uma palavra, fui dar a um site de uma empresa de consultoria financeira e gestão e aconselhamento de investimentos. Os tempos recentes deixaram-me curioso em relação a estas empresas. À sua organização, estrutura e princípios.

Ponho-me a pensar se, há 4 ou 5 anos atrás, aconselharam ou não a comprar dívida grega ou produtos tóxicos do BPN ou outras coisas igualmente desagradáveis. Ponho-me a pensar na complexidade da tomada de decisões e na responsabilidade envolvida no aconselhamento. Tenho algum respeito pelos desafios que este trabalho implica e tenho bem a noção dos perigos e das perversões que pode implicar.

No site desta empresa em particular descubro uma área intitulada "Responsabilidade Social". Vou ler.

Fiquei de boca aberta. Então não é que os senhores doutores, mestres do investimento, do pouco e do muito risco, se preocupam com questões de responsabilidade social. Gostei.

Mas há um problema. Não estão a falar de responsabilidade nas suas funções como consultores e investidores mas sim de caridade. Afinal a empresa entrega uma parte do seu lucro, pequena suponho mas pouca diferença faz, para instituições de apoio social. Isto porque, dizem eles que os sistemas de segurança social se revelam cada vez mais incapazes de responder às necessidades da sociedade. Nada de mal aparentemente.

O problema reside exactamente no que está ausente. Um compromisso de responsabilidade social nos próprios investimentos que aconselham. Ou seja... podemos aconselhar o investimento em fundos que financiam guerras ou o trabalho escravo. Podemos aconselhar comprar dívida má contraída em situações de desespero planeado. Podemos investir em industrias poluentes ou em grupos económicos sustentados por ditaduras. Desde que pareça limpo e prometa resultados não perguntamos de onde vem nem para onde vai o dinheiro. Mas damos algum para caridade.

Enfim, investimos na criação de pobreza mas no fim pagamos a sua sopa a uns pobres.

Falta lá dizer que a empresa investe na sustentabilidade, no respeito pelo ser humano e pelo meio ambiente e que faz um rastreio ético dos seus investimentos. Isto é que é responsabilidade social. Mas ninguém quer saber disto pois não?

Como professor a minha responsabilidade social é mais do que ser bom professor mas é sobretudo ser um bom professor. Isso significa ensinar as matérias mas também orientar para a educação de valores éticos. Isso significa ter um comportamento profissional socialmente responsável. Não me chega ser um professor qualquer e depois dar uns euros por mês para a Unicef.

É por estas e por outras, por não existir uma deontologia do investidor e do mercado financeiro, que podemos estar certos que a crise não terminará. Tornar-se-á eterna. Vamos habituar-nos à condição de cidadãos menores. Os sem capital. A força trabalhadora. E vamos aceitar a caridade destes e de outros que ganham dinheiro sem querer saber se investiram na nossa desgraça. O que os levará para o céu é que nos pagaram a sopa e por isso estaremos eternamente gratos.

Não sei se esta empresa investe bem ou mal. Devemos sempre presumir que cumprem a lei e acredito que sejam bons rapazes (só homens nos órgãos sociais). O que interessa aqui é a questão teórica e de comunicação que revela uma forma particular de ver as coisas, de definir um conceito de responsabilidade. Só isso.

 

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Os Donos de Portugal.

Donos de Portugal from Donos de Portugal on Vimeo.

Já tem 9 meses e já passou na RTP2 este documentário de Jorge Costa. Passou tarde. Para estarmos todos a dormir. Como se não fosse costume andarmos todos a dormir...
Ficamos a perceber Portugal e porque é que seremos sempre um povo pobre, miserável. Porque somos canibais, desprovidos de auto-estima e respeito próprio. Porque somos submissos e aguardamos, nesse estado conformado e acrítico, uma oportunidade para explorar e lixar os nossos parceiros de miséria. E por isso fechamos os olhos a evidências como as que são contadas neste interessante filme.

O caso do doutoramento da ministra alemã da educação.

"Doutoramento retirado a Ministra da Educação Alemã" in Público de 6 de fevereiro de 2013.

O caso do doutoramento copiado da ministra da educação alemã tem muito que se lhe diga. Temos, em Portugal, o irritante hábito de comparar nestas notícias o que aconteceu lá fora com o que acontece cá dentro. Por isso peço antecipadas desculpas.

Antes de mais, neste caso como noutros, resta dizer que as trincheiras políticas, lá como cá, estão repletas de chicos espertos com pouca ou nenhuma ética. Não há como confiar nos políticos que nos governam e quando falamos de ministros alemães também estamos a falar de políticos que nos governam. O sistema está doente porque atrai os piores e os qualifica. A meritocracia partidária favorece o descaramento e a falta de escrúpulos em desfavor da inteligência, da ética e do mérito cientifico ou profissional. Podemos facilmente perceber isso sobretudo durante o mandato de um pretenso governo tecnocrata que cada vez mais percebemos como ideologicamente comprometido. Sem mérito e sem ideias reais de como realmente governar o país, o nosso governo vai governando os seus interesses e as fortunas.

Do ponto de vista do caso estritamente académico quero dizer pouco. Apenas que, em defesa da senhora, a originalidade é cada vez mais rara e a universidade incentiva a cópia porque, muitas vezes, se encontra incapaz de avaliar o que é realmente novo. Ou se encontra o bosão de Higgs ou então temos de balançar entre o que foi já dito e o que queremos dizer. Mais difícil ainda quando se trata das Ciências Sociais ou das Artes. Neste caso, antes de demitir a senhora do governo, convinha ver que doutores alemães se deixaram levar e perceber se eles também não estarão um pouco aquém. A internet, de todas as opiniões, está hoje a ganhar dez a zero ao elitismo universitário na diversidade, na liberdade e também na correção científica. A cultura fechada de muitas instituições fará delas edifícios do saber obsoletos e esquecidos.

Para acabar, e porque não podia deixar de ser, a natural comparação com o caso Relvas. A demissão da ministra parece inevitável. Já um outro ministro alemão levou a mesma sentença pelo mesmo motivo. O governo português, por seu lado, insiste em deixar um senhor com uma licenciatura que desafia as regras mais elementares numa posição de destaque. Dá-lhe, inclusive, a autoridade para retalhar e vender o bem público e não o põe em causa. Ética lusitana.

Somos vítimas diárias de presidentes de banco mal educados e outros que mentem nos impostos e são amnistiados com discursos cheios de cagança. Falam alto e mandam, gozam e insultam. Ética lusitana.

A sociedade portuguesa, vista pelo governo de Passos, não é nem será nunca meritocrática apesar das teorias sombra de Nuno Crato. A sociedade portuguesa é feudal. Por isso a questão de um doutoramento forjado nunca seria aqui levantada contra um senhor ministro. Contra um elemento da corte nunca! No caso de o ser, seria considerada uma questão menor pelo primeiro ministro e ignorada. Ética lusitana.

Cabe-nos construir um sistema educativo que trabalhe para a resolução destes problemas pela educação de todos. Para que o exercício do poder possa ser mais ético e os eleitores estejam em condições de emitir um juízo lógico e participar também nas decisões políticas. A resolução da credibilidade dos políticos resolve-se pela educação. Só uma sociedade educada pode produzir e eleger os melhores representantes governativos. Aquilo a que temos assistido, em termos de cortes e políticas educativas, vai no sentido oposto. No sentido de criar uma sociedade em que uns têm tudo, a riqueza e o poder de decisão e governação, e outros têm apenas o dever de cumprir as necessidades dos primeiros.

 

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

As tolices de Fernando Ulrich

A propósito de mais um conjunto de declarações infelizes de um presidente de um Banco provindo de uma família de Banqueiros... alemães!?

Publicado no meu facebook.

"Já comecei três vezes um texto sobre Fernando Ulrich. Na verdade não há palavras. Tolice minha. O que podemos dizer sobre este homem? Que tem zero de respeito pelos portugueses? Que tem zero de respeito pelas pessoas que não tiveram, como ele teve, a papinha toda feita a vida inteira? Que não tem respeito por aqueles a quem o Estado não empresta barato milhões de euros para salvar das asneiras que fez nos negócios?
Faço uma pergunta a Fernando Ulrich: Aguentas dar uma volta a pé aqui pela baixa do Porto num dia a combinar? 
Não aguentas, acredita. A gente também já não te aguenta."