sábado, outubro 27, 2012

Um Autarca verdadeiramente generoso.

As coisas que se dizem podem ter várias leituras. Uma das leituras possíveis, pelo menos, vai revelar as ideias que estão realmente por trás do que se diz ou escreve. Corremos todos esse risco, de revelar quem realmente somos. Eu corro esse risco revelando, talvez até demais, aquilo que penso de determinados políticos e/ou as suas políticas. Tantas vezes fui avisado para ficar calado. Não tenho vergonha do que penso ou vou dizendo. Não acho que Rui Rio tenha vergonha e, pelos vistos, também não tem muito cuidado. Mas não deixo de o ouvir e sentir que há coisas ali que estão ocultas. Provavelmente até para ele.

Escreve um texto a criticar a política social do governo, a sua falta de apoio a programas de solidariedade, mas não resiste a dizer o que pensa do Rendimento Social de Inserção. Prémio, para ele, imerecido para os que "não querem trabalhar e acham que os outros os devem sustentar". Foi um pouco bruto para quem usufrui deste apoio e precisa dele. Com certeza não gostaria de estar num aperto, precisar da ajuda do estado, e chamarem-lhe automaticamente preguiçoso e oportunista. Equivaleria talvez a pensar... Autarca igual a corrupto ou vigarista... exemplos a provar esta última teoria não faltam. Rui Rio, caso lhe chamassem estes dois últimos adjectivos, correria para um advogado a pedir a devolução da dignidade. Mas não se coíbe de fazer juízos sobre os outros. Dirá que são só alguns e eu direi que é responsabilidade dos políticos desenhar sistemas justos e que não permitam a burla. Nem todos os cidadãos são honestos é verdade, mas as generalizações não deveriam agradar aos políticos porque eles não se saem nada bem na fotografia.

Outro aspecto interessante é Rui Rio achar positivo pôr esta gente, que tão pouco recebe, a trabalhar na Câmara Municipal do Porto. O R.S.I. é uma prestação de apoio, não é, até pelo seu valor, um vencimento. Ainda que o valor seja aumentado para prestar o trabalho que estão a prestar estes trabalhadores merecem o mesmo tratamento que os outros, um contrato, uma avaliação, até uma carreira, mas não... porque o R.S.I. é antes demais um castigo da sociedade aos poucos produtivos e portanto se assim é tem de se pôr esta gente a trabalhar. No fim, ironia das ironias, diz-nos que são óptimos trabalhadores e pessoas honestas. A minha sugestão é esta: ofereça-lhes trabalho, igual aos outros, até porque precisa deles caso contrário não os tinha colocado nas tarefas. O trabalho dos beneficiários do R.S.I. representa uma poupança ilegítima no valor do trabalho e é o principio de um novo modelo de escravatura. Alguém é despedido e vai cumprir funções iguais em empresa parecida mas a receber um "subsídio" abaixo do seu vencimento original e ainda deve agradecer.

A nossa sociedade, a portuguesa, a europeia, a ocidental, está podre e a vergonha não existe, nem nas palavras escritas de um editorial, esse sim, imerecido e que desconsidera o trabalho e o cidadão com dificuldades. O governo é mau, Rui Rio, mas é o teu governo, dos teus amigos e parceiros políticos, com as tuas ideias e preconceitos. Poupa-nos à tua filosofia moralista. Obrigado.



sexta-feira, outubro 26, 2012

Porque descem a prestações sociais e aumenta a desigualdade no pais? (republicação do facebook)

A propósito deste editorial do público:

Um Governo abaixo do limiar da vergonha


O problema do combate às desigualdades no Governo é só um. O Governo não pretende combater as desigualdades. Toda a filosofia económica e todo o sistema financeiro em que o Governo acredita funciona com base nas desigualdades, na meritocracia económica e moral. Simplificando: tens menos porque mereces menos, ou simplesmente, tens o que mereces. Não há aqui qualquer análise complexa de um sistema que favorece determinados tipos de burla e castiga muitos tipos de trabalho. Não há aqui qualquer reflexão sobre as injustiças sociais de um sistema no sentido de o corrigir, de o acertar, de evitar o acentuar das desigualdades. Não há, porque se aceita, sem mais, que a condição de pobre é o resultado justo do sistema. Todos os sistemas falham, não existe o sistema perfeito. Por isso todos os sistemas têm processos de salvaguarda, de ajustamento. 
O que está a acontecer é que temos um Governo fundamentalista do sistema que não acha que se deva corrigir, ou ajustar coisa nenhuma. É assim porque Deus quis e a economia assim o ditou. Por isso, se alguém está desempregado, sem casa ou mesmo doente que se amanhe. Os cortes atuais têm como objetivo moralizar a sociedade e castigar o mais desfavorecidos. Não têm motivações de corte na despesa, já se percebeu que o Governo não sabe por onde começar a cortar. É contra este tipo de moral, contra este tipo de projeto social, que pretende construir uma nova sociedade feudal, povo ariano do norte à frente a comandar, que devemos lutar. 
O Pedro Mota Soares que não se esqueça de que para os alemães ele não é mais do que um usufrutuário de um rendimento social de inserção para países sem abrigo na Europa. Vale para eles menos do que um reformado da linha de montagem da BMW.
Não defender os interesses dos mais desfavorecidos e abdicar de lutar para acabar com as desigualdades é também afirmar que Portugal deixou de ter direito a um futuro na Europa. O nosso Governo não percebe isso.

sábado, outubro 13, 2012

Os Rankings, as Escolas, os Alunos e a Soares dos Reis (re-puplicação do Facebbok)

A propósito desta noticia do Jornal Público de 13 de Outubro,

Rankings: metade das escolas públicas fica aquém do esperado


Parece que descobriram agora que escolas que seleccionam os alunos, cobram couro e cabelo e enchem as crianças de explicações e horas extras, essas crianças a quem não falta quem lhes leia livros nem livros para ler, não falta quem lhes compre computadores, essas crianças a quem a depressão diária das dificuldades económicas não afecta, essas escolas têm melhores resultados naquela coisa dos exames - agora chamam-lhe avaliação externa. Estou para a minha vida de surpreendido! Esta hipocrisia meritocrática tem de acabar. O trabalho de centenas de escolas com alunos a lutar contra todas as adversidades parece que não interessa a ninguém e confunde-se esse facilitismo económico com qualidade. A estupidez generalizada do discurso sobre educação em Portugal tem eco nos media que exultam a cada golpe na escola pública. A Soares dos Reis para já está de fora dos rankings. Um dia que lá esteja não haverá um único ponto ou décima que diga respeito à liberdade que o aluno lá viveu, ao seu crescimento pessoal e artístico, ao seu sucesso e trabalho que a tanta gente deixou os queixos em baixo. Quando um visitante vê a nossa exposição e fica fascinado, que saiba que nenhum daqueles trabalhos, centenas de trabalhos, vale um ponto que seja no nosso ranking. Termos um grupo que apoia os mais necessitados não vale um ponto que seja. Promovermos o Open-source não vale um ponto que seja. Integrarmos os que têm necessidades educativas diferentes não vale nada. Trabalharmos horas a fio com os alunos no Projeto e ganhar prémios com muitos desses trabalhos vale zero. Mas sobretudo a felicidade de cada aluno, as lágrimas por perder aquele curso e ganhar outro e a coragem de abraçar cada arte cada novo desafio, a alegria que a escola dá quando ajuda a aprender a fazer coisas, coisas que ficam, o amor e respeito que todos nós ex-alunos sentimos pela escola e a vontade de que os nossos filhos a frequentem, vale absolutamente zero nos rankings. Mas ainda há gente que acredite neles e perca a oportunidade de ter os filhos a aprender coisas reais entre colegas reais e procure as escolas da realeza para aprender a sentar e a marrar para aquela coisa dos exames. É triste.

A Propósito das Declarações do patriarca de Lisboa, D. José Policarpo (republicação do facebbok)


A propósito desta notícia do Jornal Público de 12 de Outubro...

Patriarca diz que democracia na rua corrompe a democracia


‎"Não se resolve nada contestando"..."até que ponto se consegue uma saúde democrática com a rua a dizer como se deve governar." ... "Penso que este sacrifício levará a resultados positivos". Este senhor tem uma ideia de democracia diferente. Em que as pessoas participam pouco ou nada e um líder, escolhido entre pares de uma elite, comanda sem a possibilidade de ser contestado. Da ultima vez que me lembro esta "democracia" tinha outro nome. Para ele, manter o coletivo a acreditar numa quimera só alcançável pelo sacrifício é o seu dia a dia. Não tem qualquer problema com o aumento da pobreza porque é nela que encontra os seus apoiantes e sabe que fica a ganhar com tudo isto. Mas, apesar de tudo, este senhor não tem objectivos pérfidos. Ele acredita realmente nisto. Tem uma educação tolhida e encolhida. É evidente que acredita na representatividade. Só é pena que não acredite no conceito do fim da representatividade, algo que surge naturalmente quando um representante quebra um laço de confiança com quem o elegeu com outros pressupostos. Mas quando um país inteiro é levado a sacrifícios para atingir um dia a salvação económica este senhor entra em êxtase religioso. O discurso do nosso governo é um discurso católico. Estamos a pagar o nosso pecado, com o sacrifício, e um dia virá a salvação. Quando? Isso só Deus sabe... É a forma mais fácil de pastorear o cordeiro luso. Nota final: O Padre Carreira das Neves quando lhe ocorre falar sobre escola (agora mesmo na SIC notícias) a primeira palavra que diz é "disciplina" e nunca refere educação ou formação. Deve querer dizer alguma coisa acerca da escola destes dois senhores. Tenham cuidado, tenham muito cuidado.

sexta-feira, outubro 05, 2012

O Presidente e a Bandeira Invertida.

Um Presidente hasteia a bandeira do seu país ao contrário. Este acto está carregado de simbolismo. Ainda que tenha sido involuntário. Este Presidente já nos habituou a actos desprovidos de sentido, de intenção e de alma. Uma bandeira invertida é sinal de um país vitima de um golpe de estado, um navio tomado por piratas. É um pedido de auxilio causado por uma tomada violenta e ilegítima do poder, a perca de autonomia e liberdade. Portugal foi tomado por um governo que defende interesses estrangeiros, por uma troika que quer criar um exército de escravos europeus, por falsos políticos que protegem interesses económicos nefastos. Cavaco Silva não se desgasta muito para defender o interesse dos Portugueses. Sem querer realizou o mais simbólico e preocupante acto que acompanha a comemoração da República. A Republica está no fim. A democracia também. A bandeira deveria manter-se invertida. Até lhe agradecia a ironia mas estou farto de aturar as suas tolices.