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terça-feira, junho 17, 2014
Este era o único jogo que interessava...
Confesso que, para mim, o Mundial está mais ou menos acabado. Era este o jogo que me interessava. O jogo contra os nossos carcereiros, como no filme "Victory" ou "Fuga para a vitória" de John Huston (1981). Todos os jogos depois deste não apagam esta derrota. Essa fica para a história, assim como a nossa subserviência e a nossa insuficiência. Muitos alemães ontem confirmaram aquilo que já pensavam de Portugal. Aquilo que, na verdade, tantos portugueses pensam de Portugal. Recuso-me a dizer.
O significado político, social e cultural destes confrontos é evidente. Quem o quiser negar está, obviamente, a negar uma evidência. Por algum motivo Angela Merkel foi ao balneário agradecer aos jogadores. Não sei de mais nenhum líder político a tirar selfies no balneário depois de uma vitória que humilhou o adversário. Não fomos David contra Golias. Demitimo-nos. Parecemos sempre mal preparados, fisicamente incapazes, tecnicamente insuficientes, taticamente desorganizados, enfim, atarantados. Com Paulo Bento é sempre assim. Sempre como se fosse a primeira vez. Surpreendidos com o que toda a gente já sabe.
Se Paulo Bento, ao menos, tivesse explicado aos jogadores o que o povo português queria realmente fazer à Alemanha... Morriam em campo. Mas não. Não lêem jornais, não sofrem na pele as dificuldades, estão demasiado distantes daqueles que representam. Trocaram a seleção nacional pela equipa de futebol da Federação Portuguesa de Futebol.
Jogaram lentos, sem chama. Assoberbados pelo calor e pela humidade contra os heróis germânicos que pareciam em casa no Brasil.
Estes jogadores foram profissionais só para não serem amadores (os que amam), não para serem responsabilizados pela sua falta de profissionalismo.
Contra a Alemanha nem tinham de ser profissionais. Só tinham de carregar na alma a alma dos portugueses. Jogar com paixão. É isso que se pede a uma seleção.
Mas o problema não foi apenas a falta de paixão. Não se vai a lado nenhum sem inteligência, sem trabalho, sem conhecimento. Ouvi Del Bosque depois de levar uma abada dos holandeses. Inteligente, elegante na derrota, claro como a água. Senti, naquele momento, que ele libertou uma boa parte do peso daquela derrota. Apaziguou tudo. Paulo Bento, num português horroroso, diz que equilibramos até ao primeiro golo. Até aos 11 minutos. Mais valia estar calado. Por que raio diria aquilo?
Culpou o árbitro mas, bem vistas as imagens televisivas, ninguém vai levar a sério essas queixas. Foi culpa própria. Mais nada.
Era este o único jogo em que a seleção não poderia falhar. Cair de joelhos não. Podíamos perder, mas não ser humilhados. Pelos portugueses empobrecidos, gozados, humilhados, insultados em tantos jornais alemães, nos conselhos europeus, nas comissões, nas decisões das troikas que acham sempre que somos como aquela seleção, um bando de frouxos que nem os salários mais baixos da Europa merece. Porra! Quem não percebe o que isto dói no orgulho lusitano? Muitos dirão que é só um jogo de futebol. Jesse Owens em 1936 também só tinha de correr e saltar naquela terra batida. É muito mais.
É preciso paixão mas não apenas no momento do jogo. É preciso paixão durante a preparação. Se alguma vez existiu, eu não vi nem ouvi falar dela. Não se ouviu falar de tática, era Postiga (lesionadíssimo) ou Almeida. Não se ouviu falar de treino para o calor, ao contrário dos Alemães. Ouviu-se falar de fãs, de fãs, de fãs e de fãs de Cristiano Ronaldo, e do joelho. O maldito joelho. As luzes de Ronaldo, o mais trabalhador dos jogadores, encandearam tudo e o resultado foi este. Temos ainda a oportunidade de dar a volta contra americanos (muito bem organizados e por um alemão) e ganeses. Preferia não ter uma réstia de esperança, mas sou um parvo.
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