terça-feira, novembro 20, 2007

Ter tudo para o caminho...



Ter tudo para o caminho...

Sim, porque é de um caminho que se trata e é esse caminho que é saboroso, que nos fica no paladar dos olhos. Conheço o Zé Miguel há muitos anos, desde as assembleias gerais de alunos nas belas artes, desde as visitas às casas de máquinas no centro comercial STOP onde construimos uma intimidade para além das tintas e das politicas. Ainda hoje somos confidentes apesar da distância que as estradas, mandadas construir por velhos inimigos, tentam encurtar.

O que me impressiona mais, o que sempre me impressionou, foi esse sentido de caminho, de processo continuado. O Gervásio é um pintor que trabalha muito, que se zanga, que lê tudo e que se zanga novamente, mas também se apaixona e zanga-se outra vez, sempre cuidadoso, atencioso, muito educado e no entanto, quem não o conhece entende-o como um gozão cruel incorrigível, quase ofensivo, que brinca com a cegueira de quem abre os olhos demais para não ver nada à frente.

A pintura do Gervásio anda ultimamente a fugir das palavras, sempre às voltas com as cores, que ele tão bem conhece, mas é também uma forma de escrita e re-escrita. Uma escrita secreta feita de códigos indecifráveis mas legíveis em que o palimpsesto parece sempre a chave para tudo mas que engana. Como se o que está por baixo da superfície fosse fundamental para a leitura e a cada camada revelada mais dúvidas surgissem. O Zé agora senta-se mais e os seus desenhos de viagem começam a aparecer na sua pintura. Por cima desses mapas de uma vida, dessas paisagens, lá está uma coisa dele, uma provocação, um outro desenho e assim se vai construindo uma imagem. Sobre papel, porque os papeis parecem mais gulosos e pedem sempre mais desenhos e as coisas vão-se fazendo e nunca se resolvem e depois porque sobre o papel imprime-se e o Gervásio é um impressor. As imagens, os desenhos que se repetem na impressão, podem ficar sempre diferentes e podemos sempre ver as coisas por outro lado, porque hoje toda a gente quer ver a mesma coisa pelo mesmo lado e o Zé Miguel gosta de tirar o tapete de baixo das pessoas todas empilhadas do mesmo lado a tentar ver as mesmas coisas. Há quem pense que falta lá o discurso político. Porque não sabem, não entendem, que o discurso se pode fazer com outras linguagens e que aquelas que mais falam são as que se afastam das palavras mais fáceis ou das palavras todas e que o sangue anda por debaixo da pele e corre furiosamente e poucas vezes o vemos até que alguém nos abre uma ferida.

A exposição está patente na Plumba, na Rua Adolfo Casais Monteiro, junto a Miguel Bombarda, até ao dia 15 de Dezembro.

segunda-feira, novembro 12, 2007

After all these years you still don't like us!



9 de Novembro de 2007, Carling Academy Brixton.


O concerto que nunca pensei vir a assistir... os Sex Pistols.
Fantasia da adolescência concretizada plenamente já em idade adulta.


Johnny Lydon voltou a ser Johnny Rotten para estes concertos na Brixton. A banda tocou o seu repertório do album "Never Mind the Bollocks, here's the Sex Pistols" de forma muito profissional mas, obviamente, sem a energia que as barriguinhas crescidas e a idade já não permitem.


Punks pais, punks filhos, outros menos punks, foram 5000 a assistir a um concerto em que Lydon foi igual a si próprio nos comentários polémicos entre as músicas. A tónica foi só uma "Nós somos Ingleses, vocês são Ingleses". Bocas para Tony Blair, para o treinador inglês Steve MacClaren - a lembrar o tristemente célebre Malcom MacClaren, primeiro manager da banda - tudo numa tónica nacionalista revolucionária sem se confundir com o nacionalismo de extrema direita.


Foi um concerto espectacular, numa sala cheia de rebeldes que, ao contrário dos Portugueses, aceitam bem o conceito de Não Fumar em espaços públicos fechados. Quem diria que se pode assistir a um concerto Punk Rock numa sala isenta de fumo... pois é... é possível e a malta divertiu-se à mesma!


A frase que me ficou na cabeça foi a última de Johnny Lydon "After all these years you still don't like us!". Já bem entradito na idade Lydon continua mimado e à espera de ser adorado pelo público mesmo depois de já ser uma lenda viva. Crise de meia idade que a gente desculpa vindo de quem vem.



Fica aqui um cheirinho feito com o telemovel... documento da minha presença mais do que qualquer outra coisa.

Punk is Not Dead, Long Live the Sex Pistols!

sexta-feira, agosto 10, 2007

Um Mundo Catita


Quando se pensava que a comédia de ficção portuguesa era toda muito má - ver os exemplos dos canais nacionais e os seus falhanços sucessivos - eis que surge uma boa ideia!

"Um Mundo Catita", série de seis episódios co-produzida pela Pato Profissional e Indivídeo. Escrita e realizada por Filipe Melo e João Leitão.

Claro que teve de vir de fora das televisões e é bem verdade que pode muito bem nunca chegar às casas dos portugueses (o diabo seja cego, surdo e mudo!) - ainda não está vendida a nenhum canal - mas é uma lufada de ar fresco.
O Filipe Melo convidou-me para ser beta tester da série e vi, acompanhado por outros amigos, os seis episódios de seguida. Está neste momento ainda em fase de pós-produção mas já se adivinha um produto diferente. Na onda de "My name is Earl" (referência minha e não dos autores), episódios curtos e cheios de momentos divertidos com Manuel João Vieira (Ena Pá 2000 e Irmãos Catita) ao melhor nível.
Os episódios estão repletos de referências cinematográficas que vão agradar muito a uma audiência de jovens adultos e informados que até agora dependem da produção americana ou britânica para se rirem um pouco em frente a uma televisão. Alternativa nacional credível para séries como a já referida "My Name is Earl" ou "Curb Your Enthusiasm" ou a comédia britânica de domingo à noite no canal 2 -"The Office", "Extras", "Little Britain" ou "The League of Gentlemen" - espero sinceramente que este projecto tenha algum sucesso porque o merece. Seis episódios da vida atribulada de um personagem torturado pela nacionalidade portuguesa e todos os inconvenientes que lhe estão associados... muitas invejas e má língua, amores impossíveis, picos altos e baixos de auto-estima e muito álcool, assim como todas as características felizes deste pobre mas desenrascado povo afro-latino-europeu! Enfim, Manuel João Vieira um português a Catita que deveria ser o nosso Presidente...
"Um Mundo Catita" é uma produção independente que prova que as boas ideias não vêm das empresas mas sim das cabeças dos bons autores!

Página Oficial "Um Mundo Catita"

Blog "Um Mundo Catita"

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

repérage para um atentado 02


porque sim, e não vivo sem ele.

não gosto quando a minha vida parece um filme e no entanto...

... tantas vezes.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

no fantas: Tetsuo, the Iron Man

Hoje vou ver o Tetsuo, the Iron Man mais uma vez!
Fantasporto Rivoli, pequeno auditório pelas 17.15 h.

Não me canso do Shynia Tsukamoto e dos seus delírios cyberpunk.
Filme absolutamente fundamental para a história do cyberpunk japonês conta a história de dois homens que se cruzam num atropelamento e fuga. A metalofilia do atropelado pega-se como uma doença ao condutor e a partir daí o delírio ultrapassa as normais regras da imaginação. Pedaços de metal são expelidos do corpo como se de vulgares borbulhas se tratassem... estão a ver o esquema...

Sempre achei que as explosões nucleares de Hiroshima e Nagasaki tinham provocado mutações no DNA japonês... o resultado é um conjunto de filmes em que o corpo e a tecnologia se fundem numa única forma híbrida e cibernética. A violência e a loucura que resultam desta estranha mutação já deram muitos frutos e hoje o cinema japonês é um misto de pós-modernismo e tradição prtaicamente sem paralelo no cinema ocidental.
Muita atenção também às criações da Coreia do Sul (por ex: Kim Ki Duk e Chan-Wook Park) e de Hong Kong.

Bons filmes.

Gosto Duvidoso, um blog do fundo

Duvidoso, ou nem tanto assim, é o gosto deste blog (colaboração de sangue) do mano Fundo mais novo.

Quem o conhece sabe que aquilo até chateia... é ouvinte profissional e sabe tudo, tudo mesmo!

O blog é óptimo porque ele (fundo júnior) actualiza-se por nós... manda uns links para uns arquivos rar com os discos mas o melhor mesmo é usar torrents... podia por aqui os links todos mas dá muito trabalho. De qualquer modo tudo o que sai com interesse acaba por aparecer pelo blog. Vou tentar contribuir mas não acompanho o ritmo dele... para além de que o meu gosto é mais do que duvidoso.

Consultem e ouçam música, muita música. E já agora... comprem discos (eu sei que é uma roubalheira) daquilo que gostam realmente... nem que seja online.

Quanto ao vinil, como tanto gosta o mano fundo, parece-me excessivo... mas está bem, todos temos direito a uma mania saudosista.

Gosto Duvidoso

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

de volta pelo Fantas


Estou de volta, mais de seis meses depois. As promessas de regularidade no blog ficarão sempre curtas e insípidas... não sou propriamente de confiança e sou muito, muito mesmo, preguiçoso.

Vem este regresso a propósito do Fantasporto. O maior festival de cinema português. O festival com mais público, com mais cobertura mediática, com mais filmes – dos bons e dos maus – e com menos cobertura dos ditos críticos de cinema deste país.
Todos os anos um grupo enorme de amigos vem de Lisboa para ver o Fantasporto, para viver no Porto por uma semana. Todos os anos, por uma semana, nunca me sinto verdadeiramente sozinho. Sinto-me em casa com os filmes e com os meus amigos, os meus amigos de Lisboa. Desancamos em quase todos os filmes, esgotamos stocks de SuperBock, causamos embaraços ao Mario e à Beatriz com os quais eles raramente se incomodam e conhecemos o Dario Argento pelo meio.
Esta malta que vem de Lisboa – o António, o Filipe, o Fred e muitos outros – sabe muito de filmes. Envergonharia qualquer crítico convidado pela TVI para comentar os Oscars. Debita informação sobre a produção cinematográfica portuguesa e internacional a uma velocidade estonteante e tem uma postura crítica fundamentada e pertinente. O Fantas é uma festa e para nós é quase um vício como o cinema. Nós estamos por lá a partir de sexta-feira a viver mais uma semana memorável.
Mas ainda assim os críticos de cinema – de Lisboa, porque essas profissões só podem existir em Lisboa e quem não morar em Lisboa nunca será realmente importante para o país – raramente vêm ao Porto para ver o Fantas. Volta e meia lá aparece um ou outro, sempre muito vaidosos gostam de ser centro das atenções, gostam de ser estrelas. A SIC patrocina o Fantas mas o seu canal Radical pouco ou nada se vê no festival do cinema fantástico. Entretanto inicia mais um qualquer passatempo sobre a Playstation ou então põe dois tipos ridículos a confessarem que se deslocam aos EUA para assistir a eventos de wrestling!!?? Os críticos de cinema radicais falam dos filmes do Fantas um ano ou mais depois quando compram, ou melhor, lhes oferecem os packs DVD. Para eles a Troma é conhecida pelo programa de televisão e o Takashi Miike deve ser um lutador da WWE. Pronto, estou a ser mau e exagerado eu sei, mas a realidade não anda muito longe.

Vamos ao que interessa.

O Pré-Fantas começa hoje. A arrancar, um conjunto de filmes de super-heróis ocupa durante esta primeira semana o Grande Auditório do Rivoli. A destacar, o Homem Aranha de Sam Raimi, Sin City de Robert Rodriguez (com uma perninha do Tarantino) e o Hellboy do Guillermo del Toro - atenção a Pan's Labyrinth na abertura oficial do festival. De qualquer dos modos, quem não viu estes filmes no grande ecran que faça o favor de os ir ver porque o ecran de lá de casa com certeza que não é a mesma coisa.

No Pequeno Auditório... as peŕolas! Uma semana a não perder.
Bill Plymptom a todo o vapor, animação da melhor qualidade. Desenhos a lápis à moda antiga, ritmo estonteante e mutações, muitas mutações. Vejam todos, incluindo as curtas.

O génio de Shynia Tsukamoto, com especial atenção a Tetsuo - imperdível delírio cyberpunk, anos-luz à frente dos mais radicais videoclips do Chris Cunningham - e Vital, um filme lindíssimo em termos de composição e cor, que mostra Tsukamoto como um fantástico e maduro director de fotografia e realizador. Mestre insuspeito do mise-en-scène japonês em todo o seu esplendor.

Kim Ki Duk - The Isle, Bow, Bad Guy, etc. - é outro realizador a acompanhar. Com um ritmo próprio do oriente as suas histórias de amor nunca são convencionais e revelam sempre um realismo dos sentimentos humanos só comparável com a fantasia e irrealismo dos seus argumentos. Poético e terrível Kim Ki Duk deixa-nos tão apaixonados como chocados com o que vemos na grande tela.

Mais para a frente na semana mando umas bocas sobre os filmes da selecção oficial.

Vão ao Fantasporto!

Pré-Fantas de 19 a 22 de Fevereiro.
Fantasporto de 23 a 5 de Março no Rivoli - Teatro Municipal (ainda).