"Zombie Love will doom us all" é uma ilustração em iPad de José António Fundo.
Segundo a TVI, Pedro Passos Coelho terá alterado a agenda do próximo Conselho de Ministros, para incluir a aprovação (tácita) do guião da reforma do Estado apenas depois de o ter anunciado no Parlamento.
Ao que aprece esta medida surpreendeu inclusive alguns ministros que nada sabiam do assunto. As declarações de Passos Coelho no parlamento tresandam a improsivo auto-justificativo.
Este fait-divers revela, apesar de tudo, alguma leviandade e muita irresponsabilidade governativa por parte do Primeiro Ministro. Passos Coelho pretende fazer passar como uma qualquer portaria, sem qualquer tipo de reflexão ou participação pública, uma medida que visa promover uma mudança de regime político e de modelo de administração e assistência aos cidadãos, sem que para isso tenha qualquer mandato eleitoral. O modo leviano como a expressão "reforma do estado" é utilizada pelo governo, na assembleia da república e nas infinitas crónicas nos jornais e na televisão, sem que seja feito qualquer esforço no sentido de gizar um princípio lógico e coerente que a defina, é bem reveladora da mediocridade política em que vivemos. Basta dizer "reforma do estado" e temos panaceia para tudo e mais alguma coisa.
O povo português alinha no discurso. Em Portugal tudo se aceita. Este centralismo burocrático autoritário de inspiração iluminista está no nosso ADN. O autoritarismo é bem-vindo. É um berço que nos embala num comodismo comovente. Comove a comunidade internacional que se embevece com a nossa obediência suicidária num misto de espanto e troça. Que Deus nos proteja é o que a sociedade portuguesa mais deseja. Até ver nem sinal da salvação divina. Apenas o castigo devido por esta existência ímpia que caracteriza qualquer povo que confia no Estado para o assistir quando precisa.
Passos Coelho acha que tem competência ou mesmo o direito de reformar o que quer que seja. Está enganado.
Se alguma reforma do estado deve haver é no sentido de evitar que aquilo que aconteceu nos últimos dois anos se volte a passar.
É inadmissível imaginar que estes sacrifícios que todos fizemos (bem, uns mais do outros) serviram para absolutamente nada. Serviram para deixar uns cobres nuns bancos geridos por atrasados mentais com fatos caros e deixar a população mais pobre. Dívida gorda, economia anémica e cofres cheios para pagar juros que aumentam à medida que vamos mostrando vontade de os pagar.
Com o argumento único de que os ricos e poderosos devem continuar ricos e poderosos para manter o status quo que a todos nos alimenta, tudo se legitima. Todas as medidas se justificam.
Em junho falava-se de um guião aberto para a reforma. Com a participação de todos. Agora o PM faz caixinha e esconde o que quer fazer. Tipo jogo.
Dificilmente esconde que não faz a mínima ideia do que vai apresentar. Será tudo à pressa e a fingir. Paulo Portas, esse ideólogo da nação, mais uma vez participará na farsa sendo um forte candidato ao prémio do maior contorcionista político da história moderna.
O governo tem um conceito, isso concedo. O Estado não pode pagar a assistência que atualmente faz às famílias. Mas, por outro lado, pode pagar a empresas privadas para o fazer. Para isso já há dinheiro.
Como na educação, o ministro Nuno Crato não tem dinheiro para a escola pública mas acha que pode dar mais às escolas privadas. Faz sentido.
As suas secretárias e motoristas ganham mais do que a esmagadora maioria dos professores - essa corja que se arrasta pelo chão dos estabelecimentos de ensino público com a mania que partilham conhecimento ou que promovem algum tipo de evolução. Toda a gente sabe que o sucesso e a eficácia depende sobretudo das secretárias e dos motoristas do governo. O mérito a quem o merece.
A reforma do estado vai ser o toque a rebate para o assalto final ao agora super interessante bolo dos impostos, sobretudo o IRS que aumentou em 30%. Será um real banquete de zombies. Á maneira antiga.
Tudo privatizado, uma alegria! É a solução para todos os problemas. Isso e manter os pobres afastados como se fossem leprosos no séc. XIII. De preferência com sininho e tudo. Em escolas profissionais para operários e funcionários dos serviços. Salários baixos, lucros altos. Uma economia atrofiada mas que garante a manutenção desta ordem social. Cada macaco no seu galho.
A ideia de reformar o estado, que está em permanente reforma para quem ainda não percebeu, não se cumpre num guião escrito por um governo. Muito menos por este governo. Muito menos se reforma o estado em estado de emergência. Esse sentido abrirá as portas a todo o tipo de ideias radicais e emergencialistas.
A sociedade está partida, não há emprego, não há dinheiro a circular na economia. Aqueles que pagam os impostos vêm o seu salário diminuir e aqueles que fogem aos impostos ganham perdões e reduções com o argumento de revitalizar a economia. Só se for a do bolso deles.
Antes de reformar o estado é necessário trocar de governo. Discutir soluções de modo realista e com ideias às claras. Sem boicotes na comunicação social onde os economistas da mesma coisa defendem o indefensável todos os dias à espera do tal gabinete, do motorista e da secretária. Parem a Casa dos Segredos e expliquem como vão viver milhares de famílias sem educação pública de qualidade, saúde pública ou auxílio para a manutenção da sua dignidade e qualidade de vida. E expliquem também quem vai pagar às empresas privadas que querem que assumam essas funções públicas. De onde vem esse dinheiro? Digam-me. E para onde vai?
Sem comentários:
Enviar um comentário