As coisas que se dizem podem ter várias leituras. Uma das leituras possíveis, pelo menos, vai revelar as ideias que estão realmente por trás do que se diz ou escreve. Corremos todos esse risco, de revelar quem realmente somos. Eu corro esse risco revelando, talvez até demais, aquilo que penso de determinados políticos e/ou as suas políticas. Tantas vezes fui avisado para ficar calado. Não tenho vergonha do que penso ou vou dizendo. Não acho que Rui Rio tenha vergonha e, pelos vistos, também não tem muito cuidado. Mas não deixo de o ouvir e sentir que há coisas ali que estão ocultas. Provavelmente até para ele.
Escreve um texto a criticar a política social do governo, a sua falta de apoio a programas de solidariedade, mas não resiste a dizer o que pensa do Rendimento Social de Inserção. Prémio, para ele, imerecido para os que "não querem trabalhar e acham que os outros os devem sustentar". Foi um pouco bruto para quem usufrui deste apoio e precisa dele. Com certeza não gostaria de estar num aperto, precisar da ajuda do estado, e chamarem-lhe automaticamente preguiçoso e oportunista. Equivaleria talvez a pensar... Autarca igual a corrupto ou vigarista... exemplos a provar esta última teoria não faltam. Rui Rio, caso lhe chamassem estes dois últimos adjectivos, correria para um advogado a pedir a devolução da dignidade. Mas não se coíbe de fazer juízos sobre os outros. Dirá que são só alguns e eu direi que é responsabilidade dos políticos desenhar sistemas justos e que não permitam a burla. Nem todos os cidadãos são honestos é verdade, mas as generalizações não deveriam agradar aos políticos porque eles não se saem nada bem na fotografia.
Outro aspecto interessante é Rui Rio achar positivo pôr esta gente, que tão pouco recebe, a trabalhar na Câmara Municipal do Porto. O R.S.I. é uma prestação de apoio, não é, até pelo seu valor, um vencimento. Ainda que o valor seja aumentado para prestar o trabalho que estão a prestar estes trabalhadores merecem o mesmo tratamento que os outros, um contrato, uma avaliação, até uma carreira, mas não... porque o R.S.I. é antes demais um castigo da sociedade aos poucos produtivos e portanto se assim é tem de se pôr esta gente a trabalhar. No fim, ironia das ironias, diz-nos que são óptimos trabalhadores e pessoas honestas. A minha sugestão é esta: ofereça-lhes trabalho, igual aos outros, até porque precisa deles caso contrário não os tinha colocado nas tarefas. O trabalho dos beneficiários do R.S.I. representa uma poupança ilegítima no valor do trabalho e é o principio de um novo modelo de escravatura. Alguém é despedido e vai cumprir funções iguais em empresa parecida mas a receber um "subsídio" abaixo do seu vencimento original e ainda deve agradecer.
A nossa sociedade, a portuguesa, a europeia, a ocidental, está podre e a vergonha não existe, nem nas palavras escritas de um editorial, esse sim, imerecido e que desconsidera o trabalho e o cidadão com dificuldades. O governo é mau, Rui Rio, mas é o teu governo, dos teus amigos e parceiros políticos, com as tuas ideias e preconceitos. Poupa-nos à tua filosofia moralista. Obrigado.
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