O jornal Público noticia hoje, com dados do MEC, que o número de estudantes que, à saída do ensino secundário, declara querer prosseguir a sua formação entrando no ensino superior não tem parado de diminuir desde 2008. Avança ainda que as razões económicas são as mais apontadas para não querer continuar a estudar.
Conclui-se daqui que as medidas do MEC e de Nuno Crato estão a resultar em pleno. Reprodução social garantida pela seleção económica. Menos cidadãos habilitados a uma formação superior. O dinheiro e a formação dos pais como decisivos no futuro do aluno. A meritocracia aparente tinha de dar lugar a um sistema mais simples e garantido. Tem quem paga.
Se tornarmos o acesso ao ensino superior menos atrativo economicamente, ou pura e simplesmente impossível, dentro de pouco tempo voltaremos a ouvir frequentemente a frase "não tive dinheiro para estudar", um queixume não tão velho quanto isso. Com resultados muito maus para o país e aparentemente bons para a elite saudosista do fascismo (olha o Durão).
A crise económica, causada pela geração dos 45 para cima, também é fruto da sua falta de formação, não só técnica mas sobretudo ética e, ao contrário do que escreve a elite conservadora, nós temos andado para a frente em termos de qualidade na educação nos últimos anos. Estamos melhor hoje, todos os dados o comprovam. Querem a regressão porquê?
A mudança do projeto económico do país, assente em salários baixos e produção barata para investimento industrial estrangeiro, tinha de ser acompanhada pela criação de uma força operária barata, com pouca formação, essencialmente técnica, profissional e muito específica. Quanto menor a formação e mais específica mais dependente é o trabalhador do empregador, menor o salário, menores os custos de produção. Por isso se criaram os cursos vocacionais. Por isso andaram responsáveis alemães, juntamente com responsáveis do MEC, a apresentar este tipo de cursos. São os investidores estrangeiros os mais interessados na criação dessa força operária, pois é a garantia da diminuição dos custos do investimento e da maximização dos lucros.
Neste projeto económico o país encolhe (como tem sido defendido e exigido por tantos economistas inconscientes), reduz-se a arrecadação por via dos impostos, sejam sobre o consumo ou sobre os rendimentos, e torna-se impossível manter um Estado com um grau de proteção social ao cidadão suficiente. O governo desce os impostos sobre as empresas, em nome do crescimento, e os impostos sobre os cidadãos, apesar de mantidos elevados, não chegam para as encomendas fruto dos baixos rendimentos e fraco consumo.
Aumentam as diferenças entre ricos e pobres e gera-se uma aparência de riqueza, como em todas as ditaduras, investindo na capital da nação, escondendo-se os pobres debaixo do tapete. Seremos um caso de sucesso, tipo Brasil, mas um sucesso que os portugueses nem cheiram. Um país rico com cidadãos pobres. A invenção do neo-liberalismo.
O projeto para Portugal está desenhado. O papel do Ministério da Educação é um dos mais importantes e tem sido cumprido à risca. Sempre contando com o apoio involuntário dos portugueses que gostam pouco dos seus jovens e se esforçam demasiado (e de forma até infantil) para provar que são melhores do que os seus próprios filhos. É que vencer a ignorância e procurar o conhecimento, à escala de uma nação, é um obstáculo bem mais difícil de ultrapassar do que se imagina. Não se chega lá castigando os mais novos.
Se defende justiça e igualdade no acesso ao ensino superior assine está petição.
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