Cada vez mais os País e Encarregados de Educação, quando questionam sobre este ou aquele professor, este ou aquele problema, concentram quase exclusivamente a sua atenção e preocupação na preparação para os exames.
Os problemas que apresentam são, de um modo geral, pertinentes e merecem a nossa total atenção e cuidado. Os objetivos, no entanto, pelos quais estes elementos da comunidade escolar querem ver esses problemas resolvidos não são os mesmos que nos incentivam à sua resolução. Pensamos de modo diferente o "ser uma escola".
Quando questionados sobre o facto de as aulas não servirem para preparar os alunos para os exames mas servirem para promover a aprendizagem de um conjunto de coisas e as competências para continuar essa mesma aprendizagem com autonomia respondem quase sempre "sim, claro, mas ele/a precisa de se preparar para o exame!". Percebo, mas isso assim não funciona.
Os exames já não existem para avaliar aprendizagens realizadas na escola mas são hoje o centro dos objetivos de pais, alunos e professores. Na prática o programa da disciplina dá lugar à matriz de um exame e este, assumidamente, serve para selecionar e não para avaliar.
Deixou de interessar o que se aprende e passou a interessar apenas a performance competitiva na resposta ao exame. Por esse motivo é natural que cada vez mais os melhores saibam menos. É fruto da pseudo-exigência do sistema instalado. O sistema de exames não garante uma avaliação justa (porque tenta a impossível tarefa de normalizar aprendizagens demasiado diversas), aplana as aprendizagens e reduz a sua profundidade (para conteúdos facilmente quantificáveis na avaliação) e implementa um sistema desumano de abandono sistemático e rejeição dos alunos que aprendem de modo diferente, a um ritmo diferente ou que simplesmente não aceitam a lógica de obediência e pensamento acrítico que a escola vai promovendo.
Creio que o fino fio que sustenta a escola hoje é a relação humana que os professores vão mantendo com os alunos em que a curiosidade e criatividade dos últimos estimula os primeiros a arriscar ensinar outras coisas.
É urgente alterar o centro de gravidade da escola. Centrar o seu trabalho na construção partilhada do conhecimento dos alunos e na sua vontade de continuar sempre a aprender. É urgente devolver a humanidade à escola numa altura em que, cada vez mais, se entende o seu trabalho como o da fábrica. Os alunos não são carros numa linha de montagem.
O trabalho da escola não se avalia com testes mecânicos, matemáticos. O trabalho da escola avalia-se com o olhar experimentado como o de um crítico de arte. Como quem olha para uma obra de um artista ou de um grupo de artistas. Com exigência, com recurso a muito conhecimento, de um modo estruturado e sistemático mas nunca com base em números que perderam há muito o seu sentido porque representam outros objetivos, outras metas.
Para fazer essa avaliação é fundamental perceberem todos o que se está a fazer na escola e porquê. É fundamental ter um projeto comum e no interesse dos alunos. Não é, acreditem, preparar para exames. Para isso os professores e as aulas podem facilmente ser substituídos por livros, páginas da internet, ou uma qualquer app. Para esse efeito a escola pode pura e simplesmente acabar.
Por isso, ainda que respeite muito os Pais e Encarregados de Educação que me procuram e me considere o seu mais importante aliado na educação dos seus educandos, ainda que me disponibilize infinitamente para os ajudar e resolver os seus problemas, muitas vezes me dá vontade de responder "Nós aqui não preparamos para exames, fazemos coisas diferentes. Nós somos uma Escola!"
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