Do meu ponto de vista todo o dinheiro gasto, pelo Estado, em salários ou pensões tem um efeito positivo para a economia. Na verdade a classe média gasta o seu dinheiro em Portugal e o que poupa guarda-o em bancos dentro de portas. Estes trabalhadores/consumidores põem a economia e a procura interna a funcionar e permitem o crescimento.
É o principal investimento do estado na economia, é o investimento nas pessoas, deveria ser o princípio destes liberais, não o oposto. O bem estar dos cidadãos promove os índices de confiança. Uma nação optimista pode investir e avançar. Uma nação deprimida e castigada dificilmente investe no que quer que seja. São promovidos sentimentos de insegurança, desconfiança e de revolta social.
Emprestar dinheiro aos bancos para sanear as suas contas, agregar compras em contratos gigantes para empresas gigantes, concessionar serviços públicos para gerar receitas a grandes empresas (as que ganham as concessões) à base de serviços piores com salários mais baixos, aceitar as chantagens de agiotas como são o FMI ou o BCE com empréstimos com garantias ruinosas, contratar escritórios de advogados para fazer o trabalho dos deputados e dos acessores (pagos a peso de ouro), baixar os salários aos cidadãos de modo a que não gastem mais do que o absolutamente essencial (pelos vistos uma prática moral purificadora dos valores) e outras aventuras são práticas habituais do estado capitalista e conservador contemporâneo.
Assiste-se hoje a uma dependência total e absoluta do grande capital em relação aos estados para o seu financiamento e para a manutenção de negócios e contratos altamente rentáveis. Esta dependência faz-se igualmente no modo como o tráfico de influências garante um fluxo constante de legislação que desregula o comportamento incorrecto e vai garantindo ferramentas de resgate e saneamento económico quando tudo corre mal.
Passamos de ter pessoas dependentes do estado para ter bancos e corporações dependentes totalmente dos estados. Não é, com certeza, apenas o Estado Português mas é também o Estado Europeu na figura do seu banco central e da comissão europeia.
Por isso, hoje, o trabalho do Estado tem sido financiar uma economia sem pessoas (ou com muito poucas pessoas) com o dinheiro que retira às pessoas e aos organismos que garantem qualidade de vida às pessoas, como são as escolas, os hospitais ou organismos e instituições produtores e promotores de cultura.
Não aceito discursos catastrofistas que apresentem Portugal como um país sem viabilidade económica. Não aceito os discursos que dizem que para haver país temos de ser pobres e muito menos os aceito vindo daqueles que não sofrem com a crise. Ouvimos todos os dias banqueiros e grandes empresários a dizer que devemos fazer sacrifícios mas eles próprios vêem os seus lucros a aumentar com as contradições da crise. Para eles, a desgraça alheia, mais não é do que uma oportunidade de negócio. E eles próprios, como cidadãos, não fazem um único sacrifício.
A verdade é que estamos ao serviço de interesses mais altos do que nós. Interesses que põem a vida das pessoas em segundo lugar.
A única solução passa pela demissão deste governo e por eleições. Passa pela discussão alargada das soluções possíveis para a gestão desta crise. Sim, porque não há saída para a crise, pelo menos enquanto os nossos parceiros europeus acharem que a Europa se faz com os interesses só de alguns.
Deixarmo-nos levar por discursos económicos falsamente pragmáticos é abandonar a ideia de que as soluções são necessariamente políticas, como sempre foram na história, e que passam por opções estratégicas que abram oportunidades de crescimento aos mais fracos. Essa é a margem de crescimento da Europa.
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