"Doutoramento retirado a Ministra da Educação Alemã" in Público de 6 de fevereiro de 2013.
O caso do doutoramento copiado da ministra da educação alemã tem muito que se lhe diga. Temos, em Portugal, o irritante hábito de comparar nestas notícias o que aconteceu lá fora com o que acontece cá dentro. Por isso peço antecipadas desculpas.
Antes de mais, neste caso como noutros, resta dizer que as trincheiras políticas, lá como cá, estão repletas de chicos espertos com pouca ou nenhuma ética. Não há como confiar nos políticos que nos governam e quando falamos de ministros alemães também estamos a falar de políticos que nos governam. O sistema está doente porque atrai os piores e os qualifica. A meritocracia partidária favorece o descaramento e a falta de escrúpulos em desfavor da inteligência, da ética e do mérito cientifico ou profissional. Podemos facilmente perceber isso sobretudo durante o mandato de um pretenso governo tecnocrata que cada vez mais percebemos como ideologicamente comprometido. Sem mérito e sem ideias reais de como realmente governar o país, o nosso governo vai governando os seus interesses e as fortunas.
Do ponto de vista do caso estritamente académico quero dizer pouco. Apenas que, em defesa da senhora, a originalidade é cada vez mais rara e a universidade incentiva a cópia porque, muitas vezes, se encontra incapaz de avaliar o que é realmente novo. Ou se encontra o bosão de Higgs ou então temos de balançar entre o que foi já dito e o que queremos dizer. Mais difícil ainda quando se trata das Ciências Sociais ou das Artes. Neste caso, antes de demitir a senhora do governo, convinha ver que doutores alemães se deixaram levar e perceber se eles também não estarão um pouco aquém. A internet, de todas as opiniões, está hoje a ganhar dez a zero ao elitismo universitário na diversidade, na liberdade e também na correção científica. A cultura fechada de muitas instituições fará delas edifícios do saber obsoletos e esquecidos.
Para acabar, e porque não podia deixar de ser, a natural comparação com o caso Relvas. A demissão da ministra parece inevitável. Já um outro ministro alemão levou a mesma sentença pelo mesmo motivo. O governo português, por seu lado, insiste em deixar um senhor com uma licenciatura que desafia as regras mais elementares numa posição de destaque. Dá-lhe, inclusive, a autoridade para retalhar e vender o bem público e não o põe em causa. Ética lusitana.
Somos vítimas diárias de presidentes de banco mal educados e outros que mentem nos impostos e são amnistiados com discursos cheios de cagança. Falam alto e mandam, gozam e insultam. Ética lusitana.
A sociedade portuguesa, vista pelo governo de Passos, não é nem será nunca meritocrática apesar das teorias sombra de Nuno Crato. A sociedade portuguesa é feudal. Por isso a questão de um doutoramento forjado nunca seria aqui levantada contra um senhor ministro. Contra um elemento da corte nunca! No caso de o ser, seria considerada uma questão menor pelo primeiro ministro e ignorada. Ética lusitana.
Cabe-nos construir um sistema educativo que trabalhe para a resolução destes problemas pela educação de todos. Para que o exercício do poder possa ser mais ético e os eleitores estejam em condições de emitir um juízo lógico e participar também nas decisões políticas. A resolução da credibilidade dos políticos resolve-se pela educação. Só uma sociedade educada pode produzir e eleger os melhores representantes governativos. Aquilo a que temos assistido, em termos de cortes e políticas educativas, vai no sentido oposto. No sentido de criar uma sociedade em que uns têm tudo, a riqueza e o poder de decisão e governação, e outros têm apenas o dever de cumprir as necessidades dos primeiros.
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